Livro compila 32 artigos e foi lançado em abril deste ano (Fotos: David Jordan (estagiário)/Sinpol-DF)

Da Comunicação Sinpol-DF

Episódio emblemático na história do Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal (Sinpol-DF), o “Tirotaço” é o foco de um artigo do escrivão de polícia Eulírio Dantas publicado no livro “Artigos em Homenagem ao Centenário do Curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão”.

No texto, sob o título “Sindicato policial: estudo de caso de uma greve da Polícia Civil do Distrito Federal ocorrida em 1990, que ficou conhecida como “tirotaço””, Dantas não só explora como se deu o fatídico embate entre policiais civis e militares durante uma greve da categoria em 1990, como revisa toda a história da luta sindical empreendida pelos policiais civis antes e depois da fundação do Sinpol-DF.

Eulírio se debruçou por seis meses na produção do artigo

“Foram seis meses de trabalho. Fiz pesquisas em atas do Sinpol-DF, em matérias de jornais publicados à época, entrevistei ex-dirigentes do sindicato e pessoas que testemunharam o episódio e, hoje, ainda são figuras de destaque no cenário político do DF”, explica Dantas.

O artigo foi desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-graduação em Direito da Universidade de Brasília (UnB) para a disciplina “Dimensão Histórica do Constitucionalismo”, sob orientação do prof. dr. Cristiano Paixão.

MOVIMENTO SINDICAL

Conforme o texto, Dantas mostra que o movimento sindical na PCDF foi resultado de uma transformação que a corporação sofreu na década de 80. “Em um período de dez anos, a mudança foi drástica. Houve uma luta salarial muito intensa, pois a inflação era altíssima. À época, conseguimos obter um reajuste salarial e isso começou a atrair muita gente para os concursos, pessoas que já tinham nível superior e, em muitos casos, com uma trajetória dentro dos movimentos sociais”, relata o escrivão.

Isso, segundo ele, impulsionou a organização dos policiais civis em entidades de classe. Primeiro, houve a criação da Agespol, que congregava todos os servidores da Segurança Pública independentemente de corporação. Anos depois, a entidade se tornou a Agepol – então restrita à categoria policial civil.

Essa cultura sindical foi se intensificando até que, em 1988, o Sinpol-DF foi fundado.

A trajetória de luta da categoria nesse início, porém, já não era fácil. “Mesmo com o processo de redemocratização, ainda havia resquícios fortes da ditadura militar – cujas consequências para a nossa categoria não eram diferentes para os demais cidadãos -. Nossas manifestações eram proibidas”, acrescenta Dantas.

TIROTAÇO

Foi por causa dessa repressão do governo que o clima de animosidade com os PMs surgiu: em 85, durante uma mobilização por reajuste, a categoria se reuniu no prédio da então Sintel (hoje, Ditel) enquanto uma das lideranças da época, o policial civil conhecido como “Kojak”, negociava com o governo.

O edifício, então, foi cercado por policiais militares numa tentativa de coibir qualquer ação da categoria. Apesar de não terem entrado em embate, o episódio gerou um sentimento generalizado de rancor. “A hostilidade permaneceu nos anos seguintes, tanto que culminou no Tirotaço – ou “Badernaço”, como também chamam”, pontua Dantas.

O Tirotaço, porém, só ocorreu cinco anos depois, em 1990. No dia 12 de dezembro, foi organizada uma passeata saindo do Mané Garrincha até o Palácio do Buriti. “Além de terem sido cercados por mais de mil homens da PM durante o trajeto, havia um cordão de isolamento com mais policiais militares em frente ao Buriti para impedir a passagem. Esse cerco foi quebrado, o que gerou um tumulto inicial logo resolvido. Logo depois, contudo, o grupo se dirigiu para a parte detrás do Palácio, quando a confusão foi ainda maior”, relata Dantas.

O caso ganhou repercussão internacional e, até hoje, é lembrado.

Para Dantas, toda a conjuntura daquela época reverbera atualmente na Polícia Civil. “Isso diminuiu muitas barreiras dentro da corporação; mudando a mentalidade de muita gente”, assegura.

LANÇAMENTO

A obra com o artigo de Dantas foi lançada no dia 28 de abril, com mais 32 textos científicos, em um evento que contou com a presença de diversas personalidades e autoridades, entre elas o ex-presidente José Sarney.

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