Jurema realizou uma série de procedimentos para a regeneração das impressões digitais (Fotos: Lucas C. Ribeiro/Sinpol-DF)

Da Comunicação Sinpol-DF

Corpos encontrados no Lago Paranoá, após meses dentro da água, carbonizados na mala de um carro ou em alto estado de putrefação, depois de abandonados em locais ermos, infelizmente, expõem uma face da triste realidade de aumento da violência no Distrito Federal.

Desvendar o crime por trás do corpo, em alguma daquelas situações, por vezes, constitui um desafio imenso: sem quaisquer pistas, ou nem mesmo o nome da pessoa, a investigação já começa seriamente prejudicada. É aí que entra o trabalho primordial dos Peritos papiloscopistas da Polícia Civil do DF (PCDF).

A papiloscopista integra a equipe do Lance, cuja atuação é especializada em cadáveres condições adversas

Graças à atuação dos servidores lotados no Laboratório de Exames em Cadáveres Especiais (Lence) do Instituto de Identificação (II), a maioria dessas ocorrências passa a contar com uma informação essencial: a identidade da vítima.

Foi o que ocorreu, por exemplo, em um caso registrado há cerca de um mês, quando um cadáver em adiantado estágio de putrefação foi encontrado em um local de difícil acesso nas proximidades de Planaltina.

Além de não são saberem a identidade daquele homem, na ocasião, os policiais civis responsáveis pela investigação também não contavam com testemunhas ou qualquer outra fonte de informação sobre as circunstâncias do acontecimento. Após a realização de exames periciais no local, o corpo foi levado ao Instituto Médico Legal (IML), onde foi submetido à necropsia e às perícias de identificação.

Márcio Caixeta foi o responsável por encontrar a identificação do corpo

A policial civil Jurema Aparecida de Morais, uma das papiloscopistas do Lence, teve, então, que realizar a remoção dos dedos. Assim foi possível, no laboratório do II, que o material passasse por uma série de procedimentos para a regeneração das impressões digitais.

Mesmo com as condições precárias do corpo, ela conseguiu restaurar os tecidos a ponto de tornar visível fragmentos da impressão de um dos dedos.

“Esses casos são muito complicados porque, se não se tem, ao menos, uma identidade provável para aquela pessoa, você não pode confrontar diretamente uma digital com outra. Isso exige uma recuperação maior do tecido, para que seja possível, então, realizar a busca no banco de dados de identificação civil do II”, explica Jurema.

Foi exatamente isso que aconteceu. Após a fotografia direta do polegar da mão esquerda, o papiloscopista Márcio Caixeta Arraes, que por sua vez atua na Seção Perícia Papiloscópica Avançada (Sepa), realizou a codificação, o tratamento e a busca da imagem no Sistema Automatizado de Identificação Digital (Afis, na sigla em inglês). E assim se chegou ao nome da vítima, Paulo André Rodrigues de Moura, identificado no Distrito Federal.

“É muito gratificante quando você vê o seu trabalho, apesar de condições tão adversas, trazendo esse resultado, que é fundamental para abrir o leque das investigações”, pontua Jurema. “Muitas vezes, os próprios agentes de polícia nos ligam para agradecer pelo norte que conseguimos dar às investigações. Não tem preço”, reconhece a perita papiloscopista.

TRABALHO ESPECIALIZADO

Graças a esse trabalho pericial, que além de muita dedicação, exige um elevado grau de especialização, não só esse, como diversos outros casos podem ser devidamente investigados. Ao longo dos últimos seis meses, todos os corpos que foram encontrados carbonizados, por exemplo, no Distrito Federal, foram identificados pela equipe do Lence.

Ainda em janeiro de 2016, por exemplo, o trabalho de Jurema no Instituto foi responsável por desvendar um crime de grande repercussão em Brasília: o assassinato de James de Castro Henrique, 45, que trabalhava na Poupex. O corpo havia sido carbonizado e, mesmo em condições mínimas, a perita papiloscopista conseguiu identificá-lo levando a investigação a um desfecho.

A equipe de peritos papiloscopistas do Lance é responsável pela coleta das impressões digitais em cadáveres que necessitam de aplicação de técnicas mais elaboradas, devido ao estado de deterioração que se encontram.

Além dos corpos carbonizados, esses peritos papiloscopistas lidam também com a identificação de corpos mumificados ou saponificados encontrados em várias partes do DF.

Por estarem entre os profissionais mais especializados do país nessa área da identificação humana, por vezes chegam a atuar em grandes casos mesmo fora do Distrito Federal, a exemplo de 2006, quando Jurema trabalhou na identificação dos 154 corpos que estavam no voo da Gol que caiu no estado do Mato Grosso.

Esta é a primeira da série de três matérias destacando o trabalho dos perito papiloscopistas. Uma iniciativa do Sinpol-DF em alusão ao Dia do Papiloscopista, comemorado em 5 de fevereiro.

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