Além dos deputados, representantes das Forças de Segurança do DF e da Administração do GDF participaram dos debates (Fotos: Cleia Viana/Câmara dos Deputados)

Da Comunicação Sinpol-DF

O vice-presidente do Sinpol-DF, Paulo Roberto, mencionou a redução do orçamento da PCDF (Foto: Comunicação Sinpol-DF)

O uso do Fundo Constitucional pelo Governo do DF (GDF) foi debatido em audiência pública na tarde desta quinta, 13, na Câmara Federal. A sessão foi convocada pela Comissão de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC), atendendo a um requerimento dos deputados Izalci Lucas (PSDB-DF) e Laerte Bessa (PR-DF).

O debate se insere, sobretudo, dentro da Proposta de Fiscalização e Controle nº 99/16, protocolada por Bessa no fim do ano passado com o objetivo de averiguar possíveis irregularidades nos gastos daqueles recursos.

Criado para custear, prioritariamente, a Segurança Pública do DF, o dinheiro vem sendo desviado para outras áreas. Em tese, a prática tem levado ao sucateamento da Segurança Pública e dando força ao projeto de federalização da área – que já tramita como Proposta de Emenda à Constituição (PEC) na Câmara.

A diretoria do Sinpol-DF acompanhou o debate e convocou a categoria a participar

A PEC, também de autoria de Laerte Bessa, foi protocolada após um intenso trabalho de articulação política realizado pelo Sinpol-DF junto à bancada de parlamentares do Distrito Federal na Casa.

As discussões da audiência desta quinta, contudo, sugerem um aperfeiçoamento das leis que regem o Fundo Constitucional levando-as a especificar como o dinheiro deve ser aplicado, pois a União, que repassa os recursos, e o GDF, que os utiliza, possuem entendimentos diferentes sobre o uso.

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IRREGULARIDADES

Discussão sobre as irregularidades no uso dos recursos do Fundo ocorreu por meio da CFFC

Essa medida foi defendida por Thiago Dutra, secretário de Controle Externo da Fazenda Nacional do Tribunal de Contas da União (TCU). Um dos convidados a tratar do assunto, ele informou que atualmente há 10 processos no Tribunal que apuram o uso do Fundo Constitucional.

As discussões, porém, concentram-se em três pontos: o pagamento a aposentados da Saúde e Educação; o tratamento dado às contribuições previdenciárias e o recolhimento do Imposto de Renda dos servidores das Forças de Segurança e a natureza jurídica do Fundo – se ele seria um “Fundo Especial” e qual o tratamento que deveria ser dado a eventuais saldos financeiros.

Embora não exista uma decisão do TCU sobre qualquer um dos processos, em alguns tópicos as discussões estão avançadas: no caso do pagamento aos inativos, segundo Thiago, “há um certo consenso de que esses pagamentos são irregularidades”.

Apesar de o Plenário do Tribunal ainda não ter se manifestado, a Secretaria de Orçamento Federal, em 2009, a Controladoria-Geral da União (CGU), em uma auditoria realizada em 2011, e a Subsecretaria de Orçamento do Ministério da Fazenda já haviam identificado esses pagamentos como irregulares.

“Entendemos que é um problema complexo, que precisa de uma solução, sobretudo política”, apontou o representante do TCU. Nos outros dois temas, porém, há apenas “debates” entre as áreas técnicas. “Mas ainda não há decisão”, completou Thiago.

“Há duas soluções: litigiosa, no âmbito do TCU ou do STF, ou política, legislativa, que, talvez, seja o melhor caminho para definir as responsabilidades, como equacionar a questão da saúde e da educação”, reiterou.

CONTROVÉRSIAS

Os representantes do GDF na audiência, contudo, trataram as irregularidades como “controvérsias”, defendendo a tese de que aquelas práticas são comuns desde a criação do Fundo Constitucional e que não há irregularidades.

Wilson José de Paula, secretário de Fazenda do GDF, disse que o pagamento de inativos da Saúde e Educação remonta “à origem do Fundo, em diferentes percentuais, a depender de cada ano”.

Segundo ele, o governo tem “uma autorização do TCU para manter essa prática até a decisão final”. “Uma mudança nesse procedimento levaria o DF a um colapso financeiro, refletindo na cidade toda”, afirmou o secretário.

Marcelo Proença, procurador do DF, assegurou que os recursos “têm sido utilizados efetivamente nas três áreas” e que “evidentemente, surgem controvérsias”. Para ele, o TCU não pode interferir na autonomia do GDF para a administração dos recursos e que o órgão de controle não expediu nenhuma decisão proibindo o pagamento aos inativos.

“Os inativos da Saúde e da Educação também são da área de Saúde e Educação. O servidor inativo prestou o seu serviço. Não é possível fazer esse corte. O DF está atuando em absoluta conformidade com a lei e o entendimento do TCU. Com as leis que temos, essa é uma conduta juridicamente correta”, defendeu Marcelo.

REGULAMENTAÇÃO

O discurso dos representantes do GDF, contudo, não convenceu os dirigentes das entidades de classe que representam os servidores das Forças de Segurança, entre eles o vice-presidente do Sinpol-DF, Paulo Roberto.

“A regulamentação do Fundo é clara. O que falta é o GDF cumprir o que está na lei: priorizar a Segurança Pública”, afirmou.

Segundo ele, a Polícia Civil do DF tem sido escanteada na distribuição de recursos, diferentemente do que ocorre com a Polícia Militar e com o Corpo de Bombeiros. “O orçamento para a PM saiu de 19% para 30%; o do Corpo de Bombeiros subiu 5% e para a Polícia Civil caiu 3%. Em números, isso significa uma perda de 400 milhões de reais por ano”, explicou Paulo.

Isso tem levado a Polícia Civil, segundo o vice-presidente do Sinpol-DF, a um momento difícil e a uma crise na Segurança Pública. “Há 20 delegacias fechadas por falta de efetivo. Os índices que o governo apresenta não retratam a realidade porque a população não tem como registrar as ocorrências. Ninguém imaginaria que isso poderia acontecer na capital da República”, lamentou.

Paulo voltou a mencionar a defasagem salarial dos policiais civis, destacando que a categoria sequer possui assistência à saúde como possuem os militares e bombeiros. “A quem interessa uma polícia civil sucateada?”, indagou.

FEDERALIZAÇÃO

O deputado Izalcir Lucas considerou, ao fim da audiência, que é necessário buscar subsídios para melhorar a legislação. Para ele, contudo, “está faltando transparência” pois quando foi criado, o Fundo Constitucional “era suficiente para pagar todas as três áreas mais 10% de investimento”.

“O que não podemos é, de repente, mudar tudo isso. Nós temos que mudar a lei, ou seja, aperfeiçoar a legislação. Isso tem que ser feito antes que venha coisa pior, pois a União e o GDF têm entendimentos diferentes”, acrescentou Izalcir.

Para Laerte Bessa – que não acompanhou toda a audiência porque tem assento na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) e, no mesmo horário, ocorria a votação pela admissibilidade de denúncia contra o presidente Michel Temer – , contudo, enfatizou que a solução para o problema é a federalização da Segurança Pública.

“Debater o Fundo Constitucional é nossa obrigação. Mas não há outro caminho: vamos federalizar. Temos o apoio do presidente para isso”, assegurou o deputado.

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