Do Metrópoles

Traficantes do Plano Piloto passaram a usar o Wickr, aplicativo mais seguro e sofisticado do que o WhatsApp, para anunciar a venda de entorpecentes, fazer transações e combinar a entrega dos produtos.

Segundo investigações da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), os criminosos são jovens moradores de Brasília, de classes média e alta, especializados na venda de substâncias sintéticas para usuários de alto poder aquisitivo.

A PCDF mapeou a ação dos criminosos, que distribuem as chamadas drogas “gourmet” em festas e shows promovidos nas áreas nobres da capital. No aplicativo, os traficantes chegam a gravar vídeos ao vivo para os usuários e, assim, demonstrar a qualidade dos produtos.

Arquivos obtidos pela PCDF que não chegaram a ser deletados pelos suspeitos mostram os traficantes manipulando porções com alto teor de pureza, de acordo com os criminosos.

Em um dos vídeos, o traficante afirma que os tabletes de cocaína são tão puros que precisam ser quebrados com alicate e britadeira. “Cada tijolo desse tá avaliado mais do que a grama do ouro. Nóis tá quebrando isso aqui é com chave de fenda. O negócio tá tão cabuloso que a gente tá usando é alicate. Tem que quebrar com britadeira”, afirma um dos bandidos.

Em outra live compartilhada com seus contatos, o suspeito de revender a droga no Plano Piloto diz que é fim de semana e que garante a venda da cocaína mais pura do DF.

“Sábado, 6h, estou com a pureza, só ‘dola’ gigante. Nóis fala e prova o bagulho, ó. Sem mistura, é 100% pura. Quer coisa com qualidade? Um tequinho levanta você nesse sábado. Eu tenho a pura, a melhor da Asa Sul, a melhor da Asa Norte, a melhor de Brasília”, diz o criminoso na live para os usuários.

Aplicativo seguro

Ao mapear a ação dos traficantes, policiais da 5ª Delegacia de Polícia (Área Central) perceberam que determinados grupos investigados possuíam conexão e negociavam drogas entre si, sempre entregues antes ou durante eventos de música eletrônica e festas frequentadas por uma clientela de alto poder aquisitivo.

No radar da polícia, os traficantes que utilizavam aplicativos como o WhatsApp para negociar as drogas decidiram trocar o “zap” pelo Wickr, que funciona como muitos outros programas de troca de mensagens, com o diferencial de que as caixas de texto usam criptografia multicamada e são destruídas depois de seis dias, além de não ficarem armazenadas em servidores.

Além disso, o Wickr oferece chat com até 10 pessoas e possibilidade de escolha de expiração das mensagens. Mesmo com tantos recursos, a polícia trabalha para monitorar os diálogos que ocorrem por meio do aplicativo.

Grupo seleto

As apurações policiais apontam que apenas um grupo seleto de usuários consegue acesso a esse tipo de maconha. Uma pequena porção chega a custar R$ 1,4 mil. Ao contrário do produto vendido nas ruas e em bocas de fumo, as substâncias gourmet são negociadas em rodas de amigos.

Em quase 100% dos casos, quem vende e quem compra se conhecem. Os aplicativos criptografados se tornaram território livre para os traficantes repassarem a oferta da maconha para colegas de faculdade e dos locais onde moram. Alguns criminosos chegam a expor uma espécie de cardápio com uma infinidade de ervas modificadas.

A diversidade oferecida nos grupos fechados fez alguns traficantes criarem postagens com a variedade de opções. Um deles anunciou haxixe – subproduto potencializado da maconha – de sabor uva e origem afegã, considerado um dos mais fortes, raros e caros.

O criminoso afirmou ter capacidade de entregar até 1kg do item, ao valor de R$ 10 mil. Ele também oferece comprimidos de ecstasy vindos da Holanda e da Espanha.

Em outro perfil, são anunciadas porções de um tipo raro de maconha chamado Dark Devil. O nome faz jus à cor do entorpecente e seu forte poder alucinógeno. As folhas escuras são resultado do cruzamento genético entre várias espécies da Cannabis sativa em laboratórios europeus. O preço chega a R$ 80 por grama.

 

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