Do Jornal de Brasília

A greve da Polícia Civil esvazia as delegacias desde ontem. Por mais dois dias, as unidades só registrarão ocorrências presencialmente em casos de flagrante e de crimes graves, como homicídio, latrocínio (roubo seguido de morte) e estupro. Mas, mesmo nessas circunstâncias, nenhum delito será investigado neste período. A medida é uma estratégia da categoria para pressionar o governo, mais uma vez, por reajuste salarial.

A paralisação de 72 horas foi decidida na terça-feira passada em assembleia convocada pelo Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol-DF). Enquanto durar a mobilização, os servidores orientam que a população registre ocorrência pela internet (www.pcdf.df.gov.br).

Segundo Rodrigo Franco, presidente do Sinpol, a adesão à paralisação é de 100%. Estão paradas 31 delegacias circunscricionais, 20 delegacias especializadas e todas as delegacias operacionais e administrativas. “O motivo da greve é a intransigência do Governo do Distrito Federal em avançar nas negociações e provocar uma solução para o problema do aumento de salário, que persiste durante todo o mandato do governador Rollemberg”, reclama. Os sindicalistas apontam ainda “o descaso do governo em relação à segurança pública” como outro fator responsável.

De acordo com o presidente do Sinpol, a classe teve perda de 50% do salário nos últimos oito anos, e enfatiza: “Todas as carreiras foram reestruturadas, exceto a dos policiais civis”.
Para o agente da PCDF Mendes, 51, a greve é pela reestruturação da categoria: “Outras carreiras da área federal foram reestruturadas e nós estamos sem receber absolutamente nada”. O servidor considera que há desvalorização do policial e falta de condições de trabalho e de efetivo, que em quantidade seria o mesmo dos anos 1980. “Não há concursos”, reclama.

Na próxima segunda-feira, está marcada uma nova assembleia com indicativo de greve por tempo indeterminado. A reunião acontecerá na Praça do Buriti, às 14h30.

Impedimento superado

Ontem, o Jornal de Brasília mostrou que os novos cálculos relativos à Lei de Responsabilidade Fiscal abriram margem para a cobrança dos servidores do DF por reajustes salariais, pagamentos de pecúnias e outros benefícios. O governo local conseguiu ficar abaixo do limite prudencial, ao usar 46,07% da receita corrente líquida para pagar salários, quando o limite prudencial é 46,55%.

Mais de 30 categorias estão compactuadas em parar os serviços a partir de março. As cobranças são feitas desde o começo do governo, em 1º de janeiro de 2015. De forma geral, o funcionalismo público do DF aguarda a terceira e última parcela do reajuste acordado na gestão anterior, a do petista Agnelo Queiroz. Mas o governo atual já avisou que não arcará com novos aumentos de salário.

Ponto de vista

Para o especialista em segurança pública Nelson Gonçalves, o fato de os policiais civis deixarem de receber ocorrências e de não investigarem os crimes prejudica não apenas as vítimas como a segurança pública, já que a população não terá respaldo de registros: “O prejuízo na segurança pública está justamente naquilo que eles anunciaram que deixarão de fazer. Quando a comunidade não pode fazer um registro dos eventos em que são vítimas, isso impacta nas estatísticas”.

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