CORREIO BRAZILIENSE

 

FILA DE 65 MIL OCORRÊNCIAS

Encerrada a greve da Polícia Civil, cidadãos prejudicados pelo movimento correm às delegacias a fim de registrar, por exemplo, boletins exigidos por seguradoras de veículos ou para obter ressarcimento em decorrência de cartões bancários furtados

 

Após 82 dias de greve, policiais civis trabalham para resolver as pendências nas delegacias do Distrito Federal. Agentes deixaram de preencher 65 mil ocorrências por conta da paralisação. Dessas, aproximadamente 2 mil são registros de acidentes automobilísticos feitos pela internet, mas que não foram homologados nas DPs. Com isso, quem precisava de uma cópia do boletim para apresentar à companhia de seguro e reparar o veículo, por exemplo, teve que esperar o fim do movimento. A reportagem do Correio percorreu três delegacias do DF. Segundo os plantonistas, o serviço voltou ao normal, e o fluxo de pessoas, também. No entanto, a maioria dos que procuraram os estabelecimentos queriam dar queixa de furtos que ficaram em aberto durante a greve.

Na 3ª DP (Cruzeiro), o funcionário público Leopoldo Vilar, 72 anos, contou à reportagem um fato ocorrido no fim de agosto. Ele afirmou que estava em um clube, foi drogado e teve cartões de crédito e bens pessoais furtados. Além disso, R$ 9 mil em dinheiro foram sacados da conta bancária. O idoso foi até a delegacia levar um laudo médico para finalmente registrar o fato, dois meses e meio depois. Embora o banco tenha reavido o dinheiro da vítima, ela ainda precisava apresentar a ocorrência ao gerente a fim de finalizar o processo na agência. “A greve não foi legítima e os prejudicados são os que pagam o serviço público. Consegui cobrir o rombo financeiro na agência porque sou um bom cliente. Agora, finalmente vou resolver o problema”, afirmou Vilar.

Ainda no Cruzeiro, o casal de aposentados Ana Guilhermina Sousa, 70 anos, e João Leite Torres, 73, teve um talão de cheques clonado. Eles chegaram a registrar ocorrência antes do início da greve, mas não conseguiram retirar uma cópia para apresentar na agência bancária. Tiveram que esperar os 82 dias de paralisação para reaver o dinheiro. Morador do Riacho Fundo 1, o analista de sistemas Cláudio Régis, 32, enfrentou o mesmo problema que os idosos. Ele tentou registrar o fato pela internet, mas não conseguiu. “Meu talão foi extraviado há 12 dias. Não consegui nada na DP ou pelo computador. Retirei meu dinheiro da conta, mas ainda tentaram descontar um cheque. A greve foi exagerada”, reclamou.

Após um acidente automobilístico, o autônomo Wellington Sucupira, 34 anos, procurou a 4ª Delegacia de Polícia (Guará 2). O fato aconteceu na manhã de ontem. Embora não tenha sofrido com o corte de serviços da Polícia Civil durante a mais longa greve da corporação, ele também se disse aliviado com o fim do movimento. “Para acessar o seguro, preciso da ocorrência. Se fosse um mês atrás, isso teria me atrapalhado muito. Para mim, a persistência dos agentes e a demora em voltar ao trabalho fizeram com que a exigência dos direitos deles se tornasse abusiva e prejudicasse toda a população”, avaliou.

 

Mobilização

O secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, disse que a direção da corporação fará “um esforço concentrado para atender às demandas atrasadas”. Ele destacou que a falta de registros de ocorrência é um dos problemas principais, mas ressaltou que, durante a greve, diversas delegacias deflagraram operações de combate a delitos e prenderam em flagrante “diversos autores de crimes graves”. “Os atrasos nos registros de ocorrência prejudicam as investigações, mas faremos um esforço para investigar todos os crimes, principalmente os que exigem respostas rápidas. Os delinquentes acabam sucumbindo às nossas pressões. É importante lembrar que a polícia judiciária de Brasília é a que tem os melhores índices de solução de crimes em todo país”, garantiu.

Em entrevista ao Correio, por telefone, na última segunda-feira, o diretor da Polícia Civil, Jorge Xavier, disse que haverá reforço nos plantões, inclusive amanhã, no feriado da Proclamação da República, para suprir a demanda reprimida de boletins de ocorrência. Ele também prometeu operações para conter o crime em regiões administrativas. O vice-diretor do Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal (Sinpol-DF), Luciano Marino, informou que a diretoria da entidade recomendou aos grevistas que exerçam as atividades normalmente. Ele viu a iniciativa de Xavier com ressalvas. “O reforço é bom para a população. Aumenta a capacidade de atendimento. Isso, desde que os policiais convocados recebam folga proporcional à quantidade trabalhada”, ponderou.

 

JORNAL DE BRASÍLIA

 

DELEGACIAS LOTAM APÓS GREVE

 

Antes completamente vazias, as delegacias do Distrito Federal receberam movimentação numerosa, apenas um dia após a suspensão do movimento paredista que afetava o atendimento da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Com assentos lotados, algumas unidades formaram filas de espera. Para normalizar a situação dos inquéritos, emissões de documentos e registros de determinados boletins de ocorrência, interrompidos durante a paralisação – que culminou em 65 mil queixas desprezadas –, haverá uma reorganização operacional.

O cenário se manterá desta forma pelo menos até 27 de novembro, quando outra assembleia poderá retomar o movimento grevista, interrompido por uma sentença emitida pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Território (TJDFT) na sexta-feira passada. De acordo com a PCDF, o reforço no quantitativo plantonista nas delegacias e no Instituto de Identificação, responsável pela emissão de documentos, deverá ser suficiente para atender uma demanda volumosa, aguardada para os próximos dias.

 

QUEIXAS COMPUTADAS

Para moradores do DF que procuraram o auxílio da polícia nos últimos 82 dias e não conseguiram atendimento, o diretor geral da PCDF, Jorge Luiz Xavier, informou que queixas prestadas após os incidentes podem ser computadas normalmente. “O registro feito depois do fato não muda nada, vale a declaração da vítima sobre bens furtados, ameaças e até lesões corporais. Claro que ficam prejudicadas algumas situações, mas vale a palavra da vítima”, declarou.

Sobre a quantidade de inquéritos que teriam sido interrompidos durante a paralisação, o diretor também informou que investigações de crimes considerados graves foram realizadas normalmente, inclusive com prisões e operações especiais, e que delitos como furtos serão investigados após computação dos boletins de ocorrência. “Todo cidadão que necessita do registro policial para providências de seu interesse, e também para ajudar a normalizar o controle da criminalidade, será atend i d o”, apontou Xavier.

Um dia após a retomada das atividades, o casal Frank e Juçara Bastos, 36 e 28 anos respectivamente, foi à 3ª Delegacia de Polícia para prestar uma queixa a respeito da clonagem de um cheque. “Dia 7 (de novembro) viemos e não conseguimos o registro. Hoje, o atendimento foi outro, foi excelente. Disseram que o registro tinha que

ser homologado e que poderia pegá-lo amanhã, em qualquer delegacia”, revelou Frank.

Filiação