CORREIO BRAZILIENSE

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Mais dois dias de prejuízo

Policiais civis mantêm greve pelo menos até amanhã, data da próxima assembleia. Mal-entendido entre o governo e a categoria faz o sindicato acreditar que GDF apresentou proposta de reajuste

ROBERTA ABREU

THALITA LINS

O motoboy Erisneudo de Sousa Matias, 21 anos, ficou ferido ao sofrer um acidente de trânsito, na tarde da última segunda-feira, em Vicentes Pires. Depois de registrar ocorrência na 4ª Delegacia de Polícia (Guará), o jovem precisou ser encaminhado para o Instituto de Medicina Legal (IML). Lá, ele seria submetido ao exame de corpo de delito, mas teve o atendimento negado por um dos servidores do local. Erisneudo saiu do local sem realizar o procedimento. “O policial falou que só fazia avaliação em casos graves e que o meu não seria, mas eu estava machucado e com dores. Me senti constrangido”, desabafou o rapaz. O IML também teve o serviço reduzido com a greve, que completa 64 dias hoje.

Casos como o do motoboy continuam se repetindo nas delegacias espalhadas pelo DF. Ontem, os policiais civis estiveram reunidos em assembleia e decidiram adiar, para amanhã, a deliberação sobre o fim do movimento. O sindicato da categoria (Sinpol-DF) acenou com a possibilidade de um entendimento com o governo local e apresentou para os agentes uma suposta ideia de reajuste salarial de 15,8%, equivalente ao oferecido pelo governo federal aos policiais federais. No entanto, o secretário de Administração Pública, Wilmar Lacerda, afirmou não haver, oficialmente, uma proposta.

“Existe uma proposta aos policiais federais feita pelo governo federal. Os delegados aceitaram e fomos autorizados a fazer essa mesma sugestão somente aos delegados da Polícia Civil, inicialmente”, explicou o chefe da pasta. Segundo ele, o reajuste é definido entre os governos federal e local, mas o Executivo busca uma solução que atenda ao conjunto da segurança pública do DF, que engloba também os policiais militares e os bombeiros. “Não podemos tratar de maneira diferenciada. Ainda não temos essa negociação com bombeiros e PM”, completou Wilmar Lacerda.

O mal-entendido, segundo o secretário, é decorrente da discussão que trata da isonomia entre as polícias Civil e Federal. “A tabela é a mesma. Então, em tese, o que se oferta lá, se oferta cá. Não fizemos nada por escrito”, completou Lacerda. Para o vice-presidente do Sinpol, Luciano Marinho, há uma comodidade do governo. “A gente pede que apresentem uma proposta oficialmente, mas não dão. Subjetivamente, apresentam. É a palavra do governo contra a nossa e a resposta da categoria é a falta de polícia nas ruas, no atendimento nas delegacias. Se o GDF não se manifestar, a greve continua”, garantiu Marinho.

Os rumos da greve serão definidos amanhã, em outra reunião marcada para as 15h, em frente ao Palácio do Buriti. Na tarde de ontem, cerca de 2 mil agentes participaram de uma assembleia. A possível proposta de 15,8% dividiu a categoria, que preferiu tratar do assunto amanhã, quando acaba o último prazo estabelecido. O principal pleito dos agentes é a reestruturação de carreira. “Ela engloba as perdas inflacionárias de 2006 para cá e torna a carreira mais atrativa. A cada ano, haveria uma melhoria, uma progressão natural”, explicou Ciro de Freitas, presidente do Sinpol-DF.

Reivindicações

Três das quatro reivindicações estão em vista de serem atendidas. O governo propôs a implantação do plano de saúde a partir de janeiro do próximo ano, a contratação de 3.029 agentes por meio de concurso público a ser realizado em 2013 e a incorporação dos agentes penitenciários à Polícia Civil. Segundo o GDF, a minuta de projeto de lei para essas mudanças já está pronta. Enquanto a categoria não retoma as atividades, somente os crimes contra a vida são registrados nas delegacias, como estupro, homicídio e sequestro relâmpago. Os crimes de menor potencial ofensivo, como furto, lesão corporal e acidentes de trânsito sem vítima, não geram ocorrência.

Cabo de guerra

Principais reivindicações

» Reestruturação da carreira

» Implementação do plano de saúde

» Transformação do cargo de agente penitenciário

» Aumento do efetivo

 

O que o governo ofereceu

» Reajuste de 15,8%, parcelado em três anos

» Implementação do plano de saúde a partir de janeiro

» Mudança de nomenclatura de agentes penitenciários para agentes de polícia de custódia

» Realização de concurso para 3.029 policiais em 2013

 

Três perguntas para Ciro de Freitas, presidente do Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF)

Se o governo não aceitar a proposta da categoria, os policiais civis do DF pretendem continuar com o movimento grevista até quando?

A greve tem hora e data para começar, mas não tem hora e data para terminar. A partir do momento em que ela inicia, depende pura e exclusivamente de um posicionamento por parte do governo. Então, a greve está demorando a ter uma solução justamente pela falta de postura do governo, que tem de apresentar propostas reais para a categoria. Eles (governo), em duas oportunidades, já falharam com os policiais. Em janeiro e em outubro de 2011. Foram duas greves realizadas e o governo pediu para que os policiais interrompessem e nós atendemos. No entanto, o governo não atendeu aos pleitos. Então, essa greve está demorando porque a categoria não confia mais no governo.

A população reclama desse movimento grevista e diz que a imagem dos policiais civis está desgastada. Isso não é  ruim para a categoria? Não enfraquece a corporação?

O movimento de greve desgasta não só a categoria, não só a instituição, mas o governo também. Quando a categoria entra no movimento grevista, ela sabe dos riscos que corre. A questão do desgaste rapidamente se recupera, já que a Polícia Civil do DF é uma corporação muito valorosa e com ótimos resultados em serviços do estado para a sociedade. 

Somando as três últimas greves da categoria — a que ocorreu em março e outubro do ano passado e a atual —, já são mais de 125 dias de braços cruzados. Vocês viram que esse tipo de tática não adianta. A categoria vai tentar reivindicar de outra forma?

Nós, antes de deflagrarmos a greve, ficamos quase um ano cobrando do governo a implementação. Nós tentamos várias forma de cobrar. Colocamos anúncios na imprensa, alertamos a população. E o governo se mostrou inerte diante de todas essas cobranças da categoria. Não nos restou uma outra opção se não a deflagração da greve. A greve é sempre o último mecanismo utilizado pela categoria. Nesse caso, não nos restou outra alternativa.

 

JORNAL DE BRASÍLIA

GREVE CONTINUA

Os policiais civis do DF decidiram manter a greve da categoria até amanhã, quando eles se reúnem em nova assembleia. A paralisação completa hoje 63 dias. O movimento grevista, entretanto, mostrou-se dividido diante de uma proposta de reajuste de 15,8%, o mesmo oferecido aos demais servidores. Os policiais pedem 28% de reajuste salarial, além de reestruturação da carreira e plano de saúde subsidiado. “Como a proposta só chegou hoje (ontem), não tivemos tempo de discutir”, declarou o presidente do Sinpol, Ciro de Freitas.

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