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PM prevê colapso em dois meses

Comando Geral da Polícia Militar avisa que os 600 veículos em circulação poderão parar nos próximos 60 dias, caso não seja superado o impasse com o Tribunal de Contas do DF, que suspendeu a licitação destinada ao conserto das viaturas

» ISABELA DE OLIVEIRA

Apesar de contar com apenas metade da frota, as atividades da Polícia Militar não foram prejudicadas devido à integração entre os 36 batalhões espalhados pelo território da capital. Com uma defasagem de 52% no número de veículos operacionais, as unidades de polícia apostam no rodízio de carros para enfrentar o crime.

 

A corporação tem dois meses para driblar o impasse com o Tribunal de Contas do Distrito Federal, que suspendeu o processo de licitação destinada ao conserto e à troca de peças das viaturas alegando que o valor estimado pelo certame apresentava inconsistências. “Tenho aí uma vida útil de dois meses para resolver esse problema. Se não conseguirmos licitar, as viaturas vão começar a parar por falta de manutenção”, afirmou o comandante-geral da PM, coronel Suamy Santana.

 

Pelo menos 1,2 mil veículos estão parados por falta de conserto desde o último ano. Mais de 600 carros e motocicletas estão fora de circulação, sendo que 400 deles são responsáveis pelo transporte de parte dos 10 mil presos detentos das carceragens do DF.

 

Estratégia

Apesar da defasagem, o coronel Suamy garante que o trabalho da polícia ainda não foi afetado. Até que a queda de braço entre o TCDF e a Corporação chegue ao fim, a PM resolveu lançar mão de uma estratégia que, até  o momento, consegue dar continuidade ao trabalho policial. “Por enquanto, estamos buscando alternativas para que o serviço não seja afetado, distribuindo igualmente as viaturas pelas unidades. O batalhão que tem mais carros, por exemplo, empresta para aquele que está com menos veículos.”

 

De acordo com o comandante, a PMDF começou a alterar os documentos da licitação. “Estamos adaptando o processo conforme a orientação do tribunal para passar pelo lado burocrático e resolver esse problema. As guarnições mudam, mas a viatura fica ligada, o que causa maior desgaste. Se em dois meses não resolvermos isso, teremos uma falta real de carros nas ruas porque eles rodam 24h e mais cerca de 300km ao dia. Precisamos ter viaturas de reposição para fazer o descanso, caso contrário, os veículos não suportam.”

 

Suamy ressaltou que a licitação tem sido elaborada desde o começo do ano para dar início ao pregão que vai revelar um vencedor, responsável pela manutenção dos carros. “Temos 400 viaturas tipo camburão paradas e com essa decisão do TCDF o processo vai atrasando e diminui as viaturas rodando. Manutenção de viatura não é igual ao nosso carro de passeio. A polícia tem que contratar o serviço da concessionária, caso contrário os carros perdem a garantia”, afirmou Suamy.

 

Preocupação

A população recebeu a notícia da defasagem na frota da PMDF com preocupação. Jucilene de Almeida Chaves, 35 anos, é gerente de uma casa lotérica na W3 Sul. “Fomos assaltados 21 vezes em quatro anos. Por isso, sempre que vemos um suspeito, chamamos a polícia. Ela sempre chega, mas demoram um pouco. Acho que com um número reduzido de viaturas, o tempo de percurso pode aumentar”, disse.

 

O coronel Mauro Manoel Brambilla, presidente das Associações dos Oficiais da Reserva de Policiais Militares e do Corpo de Bombeiros, explica que a redução das viaturas poderá aumentar o tempo gasto para o deslocamento. “Esse número significativo de viaturas indisponíveis tem impacto no atendimento à população. Se uma viatura antes fazia uma certa área, agora ela terá que fazer essa área e outras que não contam com carro.”

 

Lêucio José Batista, 34 anos, mora em Samambaia e avalia que “o policial fica em desvantagem sem a viatura porque, com carro, ele consegue cobrir um espaço muito maior do que a pé”. Para o analista de sistemas, além de ser um meio de transporte, a presença da viatura inibe a ação criminosa. “Quando o bandido vê o carro da polícia passando, ele fica intimidado e pensa duas vezes antes de cometer o delito”, afirmou.

 

O presidente da Associação dos Oficiais da PMDF, tenente-coronel Sérgio Luiz Ferreira de Souza, corrobora a impressão. “A PM vai cumprir a decisão do tribunal. A maior dificuldade é a diminuição de viaturas nas áreas operacionais, que contam com número abaixo do necessário. No fim das contas, a sociedade é quem fica com o prejuízo.”

 

Memória

400 carros em 2011

 

Em novembro do ano passado, o GDF comprou 250 viaturas 0km para integrar as frotas do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e das Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotan). Foram investidos R$ 21,7 milhões para a aquisição dos carros, que têm vida útil de quatro anos. No ano passado, o governo entregou pelo menos 400 viaturas novas à Polícia Militar, totalizando 1.850 carros, 1.600 motos e três helicópteros.

 

Apesar do numeroso aparato, a frota tem dificuldade em conter a violência, principalmente uma das que mais assusta os brasilienses: os sequestros relâmpagos. Últimos dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) revelam que entre 9 e 15 deste mês, 12 pessoas foram vítimas desse crime. A SSP ressalta que os autores dos sequestros utilizam carros para se aproximar das vítimas. Após render e ameaçar a vítima, que entrega todos os bens, mais o dinheiro que é sacado em caixas eletrônicos, os marginais usam o carro roubado para realizar assaltos.

 

Os últimos dados revelam que 58% dos veículos ficaram em posse dos assaltantes após o sequestro. Em maio, 53 pessoas foram sequestradas, o que equivale a quase duas por dia. Em 2011, a SSP contabilizou 281 sequestros relâmpago. Neste ano, as delegacias do DF registraram 408 casos do crime, o que representa um aumento de 45% somente no primeiro semestre. Com 52% da frota parada por falta de manutenção, os policiais enfrentarão mais obstáculos para perseguir os sequestradores.

 

Em 18 de junho, três jovens foram presos em flagrante após realizarem um sequestro relâmpago no centro de Taguatinga e depois assaltar cinco postos de gasolina no Gama, em Samambaia e em Taguatinga. O carro roubado ficou com pelo menos sete buracos na lataria devido aos tiros trocados com a polícia durante uma perseguição que mobilizou três viaturas. (IO)

 

LEGISLATIVO »

Alírio comanda o PEN-DF

» ALMIRO MARCOS

Depois de ter praticamente certa a adesão de cinco deputados distritais (quatro com mandato), o Partido Ecológico Nacional (PEN) teve ontem a sua primeira baixa. O deputado Cláudio Abrantes decidiu que não vai mais ingressar na nova legenda e continua no PPS, pelo menos por enquanto. A despeito disso, a sigla recém-criada recebeu ontem filiações e elegeu o seu diretório regional, que terá três deputados regionais e um secretário do Governo do DF na executiva.

 

Alírio Neto, deputado eleito pelo PPS e atual secretário de Justiça, será o presidente do PEN-DF. Deputados que aderiram ao partido também fazem parte do diretório: Dr. Michel (ex-PSL), primeiro vice-presidente, Luzia de Paula (suplente de Alírio e ex-PPS), primeira-tesoureira, e Professor Israel Batista (ex-PDT), segundo tesoureiro. Todos assinaram sua filiação e tomaram posse ontem na Câmara dos Deputados.

 

Quem não apareceu nem vai aparecer para integrar as fileiras do partido é Cláudio Abrantes, eleito pelo PPS. “Eu refleti bastante e decidi que não vou me filiar ao PEN. Não é nada contra o partido e os seus representantes, mas vou ficar por enquanto no PPS e lutar pelo meu mandato. Vou continuar com minha ação de desfiliação por justa causa no Tribunal Regional Eleitoral e estou certo que ganharei”, justifica.

 

Abrantes entrou no TRE contra o PPS, alegando perseguição, discriminação e mudança de posição do partido. “O PPS lutou para eleger o governador Agnelo Queiroz (PT) e depois me manda deixar a base? Isso não é certo. Então por que a executiva nacional no partido não mandou o PPS de Goiás tomar a mesma posição? Afinal, o governador Marconi Perillo (PSDB) também foi citado no caso Cachoeira”, disse.

 

 

VIOLÊNCIA »

Crime bárbaro e com sinais de execução

Policial federal de 54 anos é morto com dois tiros, um deles na nuca, diante do túmulo dos pais, no Cemitério Campo da Esperança. A vítima atuava na investigação da Operação Monte Carlo, responsável pela apuração de esquema de contravenção em Goiás

 

O policial federal Wilton Tapajós Macedo, 54 anos, estava ajoelhado em frente ao jazigo dos pais, no Cemitério Campo da Esperança, no fim da Asa Sul, quando foi assassinado com dois tiros, um na altura de um dos ouvidos e outro na nuca. O crime ocorreu por volta das 15h de ontem. Tapajós, como era conhecido, morreu a menos de 2km do Núcleo de Inteligência da Superintendência da Polícia Federal, onde trabalhava.

 

O agente participou de linhas de investigações perigosas, como a Operação Monte Carlo e a CPI da Pedofilia, além de proteção de testemunhas e de repressão a entorpecentes. As polícias Civil e Federal apuram o crime. Pelo perfil da vítima e as características do crime, fontes ouvidas pelo Correio acreditam na hipótese de execução, com indícios de ação de grupo de extermínio. Até a noite de ontem, não estava esclarecido quantas pessoas participaram do crime. Ninguém havia sido preso.

Tapajós chegou ao cemitério em um Gol branco, registrado no nome do filho, Renato Alves Tapajós. O policial levava flores ao túmulo de familiares na Quadra 606, Sepultura 108, Setor C, como fazia todas as semanas. O assassino teria aproveitado o momento para disparar contra o agente. O local é ermo, distante das capelas, mas coveiros e jardineiros que trabalhavam nas proximidades ouviram os tiros e chamaram a polícia às 15h15.

 

O bandido escapou com o carro da vítima, estacionado bem perto de onde o investigador federal acabou morto (leia arte). A PM foi a primeira força de segurança a chegar ao local, que reunia curiosos e funcionários do cemitério. Os militares encontraram Tapajós caído ao lado do jazigo. Segundo uma análise preliminar, os tiros podem ter sido efetuados de cima para baixo, disparados por alguém que chegou bem perto de Tapajós.

 

Ele ainda portava na cintura a arma da Polícia Federal, uma pistola calibre .9mm, o que pode indicar que a vítima foi surpreendida e não teve tempo de se defender. Exceto o carro, o autor dos tiros nada roubou da vítima. Os policiais encontraram a carteira dele com R$ 135, cartões de crédito e a identificação de agente da PF. Nem o documento do veículo foi levado.

 

Em pouco tempo, o local do crime estava isolado e passou por perícia das polícias Civil e Federal. Além disso, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) se mobilizou para tentar encontrar o veículo, o que não aconteceu até o fechamento desta edição. No fim da tarde, familiares e amigos de Tapajós começaram a chegar ao Campo da Esperança. A mulher dele, identificada apenas como Marian, passou mal e precisou ser atendida pelo Corpo de Bombeiros. O Instituto de Medicina Legal (IML) retirou o corpo às 17h50. Até a noite, as cápsulas dos projéteis que atingiram Tapajós não haviam sido localizadas.

 

Os trabalhos da perícia tiveram de ser interrompidos por volta das 20h devido à baixa luminosidade. O local do assassinato continuou preservado e com acesso restrito durante toda a noite. Os peritos retornam ao local nas primeiras horas de hoje.

 

Filmagens

 

As principais testemunhas do caso — coveiros e jardineiros — deram os primeiros relatos dos acontecimentos aos investigadores ainda no cemitério. O depoimento formal será colhido na 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul). A Polícia Civil, por meio de nota, limitou-se a informar “que mais informações serão prestadas somente no momento oportuno”. Enquanto isso, a Polícia Federal anunciou que vai requisitar as imagens das câmeras de segurança do Campo da Esperança para tentar identificar a quantidade de pessoas que participaram do assassinato. Fonte ouvida pelo Correio revelou que parte do vídeo mostra um veículo escuro entrando no cemitério próximo ao Gol da vítima.

 

Ao todo, o local com 1,2 milhão de metros quadrados conta com oito equipamentos de monitoramento. Todos funcionavam no momento dos disparos. As gravações podem elucidar como o autor do crime chegou ao local, se estava a pé ou em um carro. O cemitério tem quatro entradas: uma para veículos e pedestres e três só para pessoas a pé. Há uma câmera na passagem de carros, mas ainda não é possível dizer se as entradas de pedestres estavam no foco das câmeras laterais.

 

Segundo a assessoria de Comunicação do Campo da Esperança, os frequentadores não são submetidos a qualquer tipo de revista porque o local é uma concessão de área pública. Toda o perímetro do cemitério é vigiado por 16 seguranças armados, divididos em grupos de quatro homens, que trabalham por escalas. A empresa informou que não há assassinatos no local desde que assumiu a concessão do serviço, em 2002.

 

Participaram da cobertura: Ariadne Sakkis, Josie Jerônimo, Kelly Almeida, Lilian Tahan, Manoela Alcântara, Roberta Abreu, Saulo Araújo, Thaís Paranhos, Thalita Lins

 

A vítima

Wilton Tapajós Macedo

 

» 54 anos

» Nasceu em Manaus (AM)

» Era policial federal havia 24 anos

» Estava casado pela terceira vez

» Tinha sete filhos

» Morava no Guará

» Lançou-se candidato

a deputado distrital nas

últimas eleições pelo PTdoB

» Atuou como dirigente no Sindicato dos Policiais Federais no DF (Sindipol-DF)

 

 

JORNAL DE BRASÍLIA

 

SERVIDORES

QUASE UMA GREVE GERAL

Segundo sindicalistas, cerca de 30 órgãos estão no movimento

 

Depois de dois anos de mão fechada para o funcionalismo federal, o Governo Federal enfrenta um conjunto crescente de paralisações e operações-padrão nos órgãos da administração que prejudica empresas e causa transtornos à população. “Já é uma greve geral”, afirma

Sérgio Ronaldo da Silva, diretor da executiva da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef). Ela patrocina um acampamento de funcionários públicos em plena Esplanada dos Ministérios.

A entidade fez um levantamento que aponta para cerca de 30 órgãos paralisados total ou parcialmente. A mais nova adesão ao movimento foi das agências reguladoras, cujos funcionários pedem um aumento médio de 30% e mudanças nas estruturas das carreiras.

A mesma forma de pressão tem sido exercida pela Receita Federal. O órgão não está em greve, e sim em operação-padrão, desde o mês passado. Todas as cargas passam por fiscalização. Assim, há demora na liberação de mercadorias.

“Na Zona Franca de Manaus, deram férias coletivas para oito mil empregados por falta de insumos para trabalhar”, contou Pedro De La Rue, presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Sindifisco). Os fiscais querem uma correção salarial de 30,18%.

A ordem da presidente Dilma Rousseff, porém, é não ceder. Nos próximos dias, o Ministério do Planejamento espera concluir um levantamento sobre os funcionários em greve para descontar os dias parados. Há, porém, dificuldade nas universidades federais, pois os reitores se recusam a informar quem são os grevistas.

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, deve encontrar-se esta semana com o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, na tentativa de obter uma proposta. Ele esteve ontem com a ministra da secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, para debater as greves e paralisações de servidores federais.

Freitas deixou o recado que o governo precisa destravar as negociações, abrir as discussões e apresentar propostas para os servidores parados. Segundo ele, a ministra apenas ouviu os pleitos, explicando que não era a área específica dela.

O governo tem insistido que não tem o que apresentar agora para os servidores em greve, argumentando que muitas categorias foram beneficiadas com aumentos salariais muito acima da inflação nos últimos anos. Além disso, informa que já há uma negociação em curso cuja conclusão será no final de agosto.

 

DATA LIMITE

Qualquer reajuste salarial tem de estar decidido até o dia 31, quando segue para o Congresso a proposta do Orçamento de 2013. “Eles vão ficar enrolando até o final de agosto, que é a data fatal”, aposta De La Rue.

“Mas nós não somos bobos e vamos agir antes disso”, disse ele. Uma exceção foi aberta para os docentes das universidades federais, mas estes consideraram a proposta do governo insuficiente e continuam em greve. Para eles, foram oferecidos reajustes de até 45%. Mas o ministro da Educação, Aloísio Mercadante, já avisou que o governo não tem como melhorar a proposta.

 

União na Esplanada

Servidores públicos da saúde, educação e outras categorias pertencentes ao Governo Federal estão acampados na Esplanada dos Ministérios. A manifestação, que começou segunda e vai até sexta-feira, busca atrair a atenção do governo para as reivindicações das diferentes categorias. Ontem, eles se reuniram em frente ao Palácio do Planalto, com faixas e gritaram palavras de ordem.

Antônio Carlos Azevedo, diretor do Sindicato dos Servidores Públicos Federais do Rio de Janeiro (Sintrasef) e servidor da área de saúde, afirma que a categoria tem a menor remuneração do serviço público – R$ 1.900 com as gratificações. Segundo Azevedo, os servidores da saúde buscam a equiparação dos salários com as outras categorias.

Outro pedido dos servidores da saúde são medidas de reparação do governo quanto às doenças adquiridas no trabalho. De acordo com ele, oito trabalhadores do Rio de Janeiro morreram em decorrência da manipulação de inseticidas. Marcel Matias, coordenador do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica de Natal (Sinasefe Natal), afirma que a greve foi o último recurso encontrado pelo sindicato, que busca melhores condições de trabalho e a reestruturação da carreira de docente e de técnico administrativo. O sindicalista enfatiza que as duas atividades devem ser tratadas conjuntamente e que o governo tentou dividir o movimento.

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