O presidente Jair Bolsonaro assume hoje as negociações com os líderes na Câmara com a missão de controlar um Congresso em ebulição. O Palácio do Planalto está sendo bombardeado com recados vindos de partidos de centro, centro-direita e do próprio presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O discurso das lideranças do bloco que elegeu o demista é de que não vão se desgastar sozinhos na “guerra da comunicação”. Tão pouco mobilizarão as bancadas para construir um apoio formal à reforma da Previdência sem que demandas na base sejam atendidas, como liberação de emendas parlamentares e espaços na Esplanada dos Ministérios.
A avaliação de líderes é que se encontrarão com um presidente que irá para a reunião de peito aberto. Bolsonaro terá que se posicionar sobre o que quer da base no Parlamento, mas não tem muito a oferecer além da oferta de cargos de segundo escalão para baixo. A oferta, dizem interlocutores das lideranças, garante alguma sustentação de apoio, mas pouco qualificada. O suficiente para aprovar uma reforma desfigurada, bem diferente do texto original encaminhado.
Os líderes tentarão negociar uma reforma ministerial com Bolsonaro. Ainda que as substituições de ministros sejam feitas com garantia para depois da aprovação da reforma. Ou seja, no segundo semestre. Há, também, quem defenda paralelamente a esse pleito postos de segundos escalões estratégicos em pastas com recursos para execução de obras nos estados.
A Casa Civil avalia, no entanto, que os pedidos são difíceis de serem atendidos. Com um discurso moralizador durante a campanha, de luta intransigente contra a prática do “toma lá da cá”, Bolsonaro reluta em ceder espaços tão generosos a políticos e aliados. “Não há nada em estudo nesse porte, como uma reforma ministerial”, avisou um interlocutor do ministro-chefe da pasta, Onyx Lorenzoni.
Na impossibilidade de negociar postos de primeiro escalão ou cargos mais estratégicos dentro do governo, líderes tentarão convencer Bolsonaro a não ser tão duro com o chamado “banco de talentos”, decreto que prevê critérios para acomodar indicados políticos na Esplanada. O modelo elaborado prevê que os nomes sugeridos serão analisados sob ótica técnica pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), pela Secretaria de Governo, e pela Controladoria-Geral da União (CGU), e deverão atender a exigências como escolaridade.
A profissionalização da indicação política trabalhada pelo governo tem outra polêmica que incomoda. O decreto possibilita que o ministério para o qual o indicado será designado tenha poder de veto. Tantas exigências e poréns são encaradas como uma forma de discriminação pelo líder do PRB na Câmara, Jhonatan de Jesus (RR). “O governo anda falando muito em nomes técnicos, mas temos políticos que também são bons técnicos. Se o presidente não quer interferência política no governo, então ele precisa pensar em um jeito de montar a base sem interferir no Congresso”, alertou.
Na tentativa de construir uma ponte com o Congresso, Bolsonaro estuda sugestões de Maia e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), para indicar a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) como líder do governo no Congresso. A informação foi dada ontem pela própria parlamentar, embora o nome de um senador também seja cogitado. “Eles (Maia e Alcolumbre) mesmos fizeram a sugestão, que muito me honrou. Conversamos ontem e tem que aguardar o desenrolar”, afirmou.
A escolha por Joice pode, no entanto, ser outro tiro no pé de Bolsonaro. Além da parlamentar não ser unanimidade entre correligionários e outros líderes, seria outro integrante do PSL a assumir uma liderança do governo. “Ela não agrada, é inconveniente e seria arriscado colocar mais uma pessoa do partido em um posto de confiança. Fora que não é alguém do Senado”, criticou um aliado.
Comunicação
O presidente também vai ser cobrado por uma comunicação melhor para convencer parlamentares e a sociedade sobre o voto favorável pela reforma. O discurso é encampado por Maia. Ontem, em debate organizado pela Folha de São Paulo e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), ele sugeriu que o governo utilize a estratégia de comunicação pelas redes sociais para convencer a população da importância da aprovação do texto.
Uma boa comunicação, avalia Maia, será decisiva para o sucesso da reforma. “Não tem como ir para o enfrentamento de um tema tão sensível como esse sem ter a capacidade de explicar de forma muito clara para o cidadão o que estamos fazendo, qual o objetivo da reforma. O governo precisa fazer isso. (Usar) a estrutura política que levou o presidente ao governo e que apresentou competência muito grande de influência nessas redes”, ponderou.
O Planalto iniciou na última semana a estratégia. A Secretaria de Governo da Presidência da República, chefiada pelo ministro Santos Cruz, divulgou nas redes sociais uma peça publicitária defendendo a reforma. A regra de idade mínima é um dos pontos a ser focado. À medida em que o texto sofrer alterações, a pasta vai definir uma nova diretriz para a comunicação organizacional.