Do Metrópoles
Em depoimento prestado à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), Dayane dos Santos, 23 anos, afirmou que a família não sabia que ela tinha perdido o bebê em agosto deste ano e pretendia roubar a criança para encobrir a situação. A ideia do sequestro veio ainda na segunda-feira (25/11/2019).
O sequestro ocorreu às 3h da madrugada desta quinta-feira (28/11/2019) no Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Dayane se apresentou à mãe do bebê, Larissa de Almeida Ribeiro, 21, e disse que precisava levar a criança para um exame de glicemia. Quando percebeu que a mulher estava demorando demais, Larissa foi atrás de socorro.
Aos policiais, a suspeita afirmou que chegou a amamentar o recém-nascido. “Ela conta que produziu leite, o que não é nenhum absurdo diante do fato de que estava grávida há pouco tempo”, explicou o delegado Luiz Henrique Dourado Sampaio, da Delegacia de Repressão a Sequestros (DRS).
Aos investigadores, a suspeita afirmou que passou dois dias apenas observando o movimento na ala da maternidade do hospital. Lá, ela teve acesso a uma lista de relação de gestantes internadas.
“Ela realmente simulou toda a gravidez, criou um ambiente, uma história: simulava contrações, fez enxoval e até pesquisou qual o melhor hospital. A família não sabia do aborto”, continuou Sampaio.
“Estava desde agosto fingindo estar grávida. Não deixava que tocassem em sua barriga e sempre apresentou comportamento arredio.”
Planejamento
“Ao que tudo indica, ela planejou o crime e a execução, mas não soube o que fazer no pós-crime. Se preparou para o antes e não para o depois”, acrescentou.
Dayane encenou o parto. “Ela deve ter se cortado para manchar os panos de sangue, o banheiro estava com sangue e o irmão, apesar de ter estranhado, decidiu chamar os bombeiros”, explicou Sampaio.
Ela havia, inclusive, simulado um acompanhamento médico da criança. “Dayane recebeu um cartão de acompanhamento, mas os médicos viram que era incompatível com a situação dela. Aparentemente, ela perdeu uma menina aos 4 meses de gravidez”. O recém-nascido sequestrado é do sexo masculino e se chama Miguel Pietro.
Segurança
Sampaio diz que a segurança no hospital precisa melhorar. “Mas houve, também, uma desenvoltura e um planejamento grandes por parte da autora, que foi bastante perspicaz e eficiente. Fica o alerta não só para o HRT, mas para os demais hospitais”, considera.
A segurança da mãe verdadeira do recém-nascido foi reforçada. Ela e o bebê estão internados no Hospital Regional de Ceilândia.
Dayane levou a criança dentro de uma bolsa (foto em destaque). Depois de sair do HRT com o bebê dentro da bolsa, Dayane pediu ajuda do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) com a desculpa de que teria dado à luz um menino em casa.
Então, seguiu para o Regional de Ceilândia (HRC). Lá, a mulher acabou descoberta, segundo nota da Secretaria de Saúde. “Os profissionais de saúde de Ceilândia constataram que o menor não havia nascido fora de unidade hospitalar e já tinha características de atendimento médico, como o corte do cordão umbilical e a marca da vacina BCG”, dizia o texto.
O caso
A criança tinha apenas 19 horas de vida quando foi levada. A avó materna, Francisca de Almeida Ribeiro, 55, conta que a filha havia sido transferida da UPA do Gama para o HRT nessa terça-feira (26/11/2019), mas o parto só ocorreu na manhã de quarta (27/11/2019).
“Foi um bom parto. Fomos transferidos da UPA do Gama porque lá não poderíamos realizar o ultrassom”, lembra. Em Taguatinga, após a cesariana, Larissa não pôde ficar com acompanhantes, segundo os familiares, porque ela tinha que ficar em observação.
Por volta das 10h da manhã dessa quarta-feira (27/11/2019), Francisca voltou para casa, mas manteve contato com a filha. “Eu falei para ela: ‘Cuida do bebê, não deixa ninguém pegar nele’”, diz.
Então, às 3h da madrugada desta quinta, de acordo com familiares do menino, uma mulher de jaleco teria visitado a criança e a levado para fazer um exame de glicemia, mas não a devolveu.
Larissa desconfiou da demora e procurou o pessoal do hospital. Contou o que aconteceu e ninguém tinha conhecimento do exame. Então, as buscas começaram. Além da DRS, investigadores da 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga) participaram da ação.
Secretaria
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal informou “que está em andamento um projeto para implantação de uma central para monitoramento dos hospitais da rede pública”.
Porém confirmou que não existem câmeras no hospital onde ocorreu o sequestro: “No HRT não há câmeras de segurança”.
Segundo a pasta, na hora do desaparecimento, na madrugada de quinta-feira (28/11/2019), o centro clínico tinha 15 seguranças e um supervisor no plantão.
“A Secretaria de Saúde, por fim, lamenta o ocorrido e reforça a importância do trabalho em rede, como ocorreu, possibilitando o desfecho do caso o mais rapidamente possível, e com final positivo. Destaca, ainda, que vai trabalhar para aprimorar a segurança nas unidades de saúde”, afirmou a pasta.