Do Metrópoles

Alvo de investigação da Polícia Civil, o estelionatário Marcelo José Neves, 36 anos, deixou um rastro de golpes no Distrito Federal. Pelo menos sete vítimas já foram identificadas e amargaram, juntas, prejuízo que se aproxima dos R$ 2 milhões. Apenas uma delas teria perdido R$ 1,2 milhão após cair na lábia do Don Juan. Parte das mulheres esteve, na segunda-feira (16/09/2019), na Coordenação de Repressão a Fraudes (Corf) para registrar ocorrência. Elas foram ouvidas pelos investigadores.

Além do caso revelado pelo Metrópoles na última sexta-feira (13/09/2019), quando o Don Juan foi alvo de operação após aplicar um golpe de R$ 600 mil em uma mulher, a PCDF já instaurou outros dois inquéritos para apurar os estelionatos praticados por Marcelo Neves. Uma das vítimas ouvidas na segunda-feira é empresária e perdeu R$ 192 mil ao fazer negócios com o criminoso. Sem se identificar, ela contou que o Don Juan aplica golpes no DF há pelo menos oito anos e que sofreu o prejuízo em 2011.

A empresária relatou que conheceu o golpista por meio de amigos em comum e ouviu do criminoso que ele teria uma empresa especializada em importação e exportação. “Naquela época, eu procurava justamente por um serviço como esse que o Marcelo dizia oferecer. Eu havia acabado de abrir uma clínica de fisioterapia e precisava importar uma série de equipamentos dos Estados Unidos e resolvemos assinar um contrato”, explicou.

Cheques

O estelionatário recebeu sete cheques, que totalizaram o valor de R$ 192 mil e jamais importou os equipamentos. “Descobrimos que ele entrava em contato com os fornecedores, sempre pedindo a extensão do prazo para o pagamento, mesmo tendo recebido todo o dinheiro. Em contrapartida, dizia para mim que os fornecedores estavam protelando o envio. Foi um golpe duro no meu orçamento”, afirmou a vítima.

Pressionado pelos clientes, o golpista chegou a afirmar que os equipamentos já haviam sido comprados e estariam em um galpão na cidade de Orlando, na Flórida (EUA), aguardando para serem transportados ao Brasil.

Marcelo Neves enviou a suposta localização do galpão para a empresária, que investigou onde o sinal apontava. “Quando fomos checar a veracidade, vimos que, na verdade, tratava-se da residência de uma família americana. A partir daquele momento, entramos na Justiça para tentar reaver o dinheiro”, contou.

Outra vítima do golpista também prestou depoimento à polícia. Ela perdeu R$ 223 mil durante um processo de negociação envolvendo investimento em fundos nos Estados Unidos. O estelionatário fez um trabalho de convencimento sobre a mulher. Ambos eram vizinhos em um prédio no Setor Noroeste. As conversas duraram entre setembro de 2014 e fevereiro de 2015 quando, enfim, a vítima resolver aplicar o dinheiro no suposto fundo. Após o dinheiro ser transferido, Marcelo Neves desapareceu.

Operação

Durante a operação contra o Don Juan, os investigadores da Corf cumpriram mandado de busca e apreensão em um apartamento na Quadra 307 da Asa Sul, onde mora a mãe do suspeito, e na casa dele, na 705 Norte. Os policiais precisaram de um caminhão para transportar todos os produtos de luxo comprados pelo criminoso com o dinheiro de uma das denunciantes, que perdeu patrimônio avaliado em R$ 600 mil.

De acordo com as diligências, que correm em sigilo, Neves se aproveitou da vulnerabilidade da mulher, divorciada há pouco tempo, para seduzi-la. Com lábia afiada, o Don Juan convenceu a vítima de que seria expert em operações do mercado financeiro, sendo um grande investidor. Em seguida, o estelionatário fez com que a vítima se desfizesse de carros, apartamento e joias. Assim, com o dinheiro, ela investiu em fundos supostamente administrados por Marcelo.

Durante o envolvimento com a vítima, até a mãe do fraudador se aproveitou da situação. Ambos usaram os cartões de crédito da mulher, provocando rombo de R$ 166 mil, e ainda realizaram empréstimos bancários que somaram R$ 54 mil. Depois que se apossaram do patrimônio, os golpistas alegaram que não havia nem mais um centavo no fundo. Assim, cortaram relações com a denunciante.

Segundo o delegado Miguel Lucena, a investigação está em andamento, em segredo, conforme despacho da Justiça. “Vamos continuar a apurar o caso, mas não podemos dar detalhes por conta da decisão judicial em manter o caso sob sigilo”, resumiu.

Bebidas sofisticadas

Durante o cumprimento de busca, os investigadores recolheram dezenas de garras de vinhos sofisticados, uísques importados e espumantes de marcas famosas. Entre os rótulos, havia uma garrafa de vinho que custa R$ 3 mil. Os policiais também apreenderam móveis, eletrodomésticos, perfumes e cosméticos importados, além de bolsas e carteiras de marcas famosas.

Todos os produtos foram transportados em um caminhão até as dependências do Departamento de Polícia Especializada (DPE). Os itens ficarão apreendidos até a conclusão do inquérito policial. Os investigadores pediram à Justiça a quebra dos sigilos fiscal e bancário do estelionatário. O objetivo é apurar o caminho percorrido pelo dinheiro da vítima. Além disso, a polícia quer identificar outras mulheres que, supostamente, tenham caído no golpe de Marcelo Neves e perdido grandes quantias em dinheiro.

O suspeito, que segue solto, já tinha passagem pela polícia por aplicar golpe semelhante contra uma idosa. O Metrópoles tentou contato com o denunciado, mas não havia conseguido resposta até a última atualização da reportagem.

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