Do Metrópoles
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) investiga a participação de moradores da capital da República em fóruns extremistas localizados na deep web e na dark web – camadas da internet que não podem ser acessadas através de mecanismos de busca comuns, como o Google (leia mais abaixo). Os grupos são formados por integrantes que se apresentam com nomes e fotos falsas. Eles discutem abertamente a prática de crimes, incluindo ataques a pessoas, como no caso do massacre na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP).
Os inquéritos são conduzidos pela Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC). Um dos alvos da investigação é o grupo intitulado de Dogolochan. O fórum foi idealizado pelo hacker Marcelo Valle Silveira Mello, preso em 2012 pela Polícia Federal acusado de planejar um atentado a estudantes da Universidade de Brasília (UnB).
De acordo com os investigadores de São Paulo, os responsáveis pela tragédia em Suzano – Guilherme Taucci Monteiro, 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, 25 – faziam visitas constantes ao Dogolochan. Seis dias antes de entrarem atirando em inocentes na escola, os dois publicaram no fórum mensagens sobre o ataque. Eles supostamente agradeceram a ajuda de outros membros e deixaram rastros para avisar internautas sobre o crime.
Um print mostra o que pode ser um dos atiradores fazendo uma menção ao DPR, administrador do Dogolachan. “Muito obrigado pelos conselhos e orientações, DPR. Esperamos do fundo dos nossos corações não cometer esse ato em vão. […] Nascemos falhos, mas partiremos como heróis. […] Ficamos espantados com a qualidade, digna de filmes de Hollywood”, diz a mensagem.
Outros usuários questionaram se os atiradores eram integrantes do grupo. A resposta dada por um dos administradores foi positiva.
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Segundo o delegado-chefe da DRCC, Giancarlos Zuliani Júnior, não é possível afirmar que o administrador da página seja do Distrito Federal. “Estamos acompanhando as postagens de todos os integrantes não só nesse grupo, que é considerado um dos mais conhecidos, mas em outros que tratam do mesmo crime. Mais detalhes não podem ser revelados pois colocariam em risco as investigações em andamento”, explicou.
De acordo com a Polícia Civil, que possui especialistas em investigações no submundo da internet, são diversos os crimes praticados e, muitas vezes, comercializados na dark web. Alguns exemplos são: venda de dados de cartões de crédito, dados pessoais, conteúdo de pornografia infantil, ataques a sites de empresas e vendas dos mais diversos produtos como drogas e armas. O pagamento é sempre feito por meio de moeda virtual, como o bitcoin.
Deep e dark web
Professor do Departamento de Informática da Universidade de Brasília (UnB), Jorge Fernandes diz que a dificuldade de rastreamento por parte das autoridades torna as redes obscuras da internet um terreno fértil para criminosos. Segundo o especialista, sem fiscalização, o espaço acaba sendo ocupado por bandidos, pedófilos e traficantes de drogas, armas e, até, órgãos.
Segundo o professor, a deep web é composta de um conjunto de servidores que não são indexados por mecanismos de buscas, como o Google. Por sua vez, a dark web é uma camada ainda mais profunda da rede utilizada por criminosos. “Você tem um submundo de informações que não possui um mapeamento completo dele. Eles fazem assim porque gostam de se esconder.”
Jorge Fernandes explica que endereços na zona mais profunda da rede só podem ser acessados por quem conhece o caminho. “Assim como existe em qualquer grupo social, na internet também acabam criando uma estrutura de submundo.”
De acordo com o especialista, o conjunto de protocolos de acesso que os frequentadores da deep weeb usam dificulta o trabalho da polícia. “Até porque tem uma dificuldade de jurisdição no mundo. Por exemplo, se um computador que tem um monte de coisas ligadas ao crime está hospedado em outro país, a polícia daqui não tem como forçar sair do ar.”
Rede de comunicação
O Ministério Público de São Paulo também vai apurar se houve participação de uma organização criminosa na tragédia de Suzano. “Iremos fazer uma investigação ampla em todas as linhas para saber como eles tiveram acesso às armas, se há um grupo que atua com eles, se há uma rede de comunicação, as motivações e a forma do crime”, afirmou o procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Smanio, na quinta-feira (14/3).
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) foi escalado para averiguar os contatos mantidos pela internet por Luiz Henrique e Guilherme Taucci.