Do Metrópoles

A Polícia Civil e o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) prenderam nesta sexta-feira (22/3) oito pessoas acusadas de integrarem a facção Primeiro Comando da Capital (PCC). Os investigados foram indiciados por organização criminosa.

A investigação é conduzida pela Divisão de Repressão às Facções Criminosas, da Coordenação Especial de Repressão à Corrupção, ao Crime Organizado e aos Crimes contra a Administração Pública e contra a Ordem Tributária (Difac/Cecor) e pelo Núcleo de Controle e Fiscalização do Sistema Prisional do Ministério Público do Distrito Federal (Nupri/MPDFT).

“Todos os presos pertencem à facção e contribuíam cometendo crimes ou recrutando novos integrantes, incluindo menores de idade”, explicou do delegado Leonardo de Castro. No DF, os policiais fizeram buscas em Ceilândia, Santa Maria e Sobradinho 2.

De acordo com o delegado, durante a operação, os policiais localizaram registros de batismo (veja abaixo) dos criminosos. É uma espécie de documento que todos os associados do PCC precisam ter para provar o elo com a facção. O papel traz informações como nome completo, idade, telefone, dados dos padrinho, data do batismo e dívidas de drogas.

Os mandados de prisão, busca e apreensão foram expedidos pela 5ª Vara Criminal de Brasília para serem cumpridos no DF e em São Paulo. Os novos alvos são lideranças que ainda não tinham sido identificadas durante a Operação Fora do Ar, deflagrada em dezembro.

De acordo com as investigações, os alvos da operação, batizada de Continuum, exerciam funções de liderança na capital federal. Uma mulher segue foragida.

As provas reunidas pelos investigadores demonstram articulação entre os faccionados e a discussão sobre os mais variados assuntos, como o tráfico de entorpecentes (atividade principal da organização criminosa); a cooptação de adolescentes para futura integração ao grupo; a implementação de um “setor do paiol”, para a aquisição de armas; e as movimentações ocorridas no sistema prisional, cujas tratativas já consideravam a possível vinda de outras lideranças nacionais ao Presídio Federal do DF.

Um homem preso em Osasco (SP) é apontado como o “sintonia do progresso”, uma função importante da facção. Ele cuidava da venda de drogas no varejo. Também era responsável por dar ordens aos criminosos que integravam a célula desarticulada pela PCDF.

“Temos percebido que essa facção está levando as lideranças para outros estados, mas isso não tem surtido efeito. Pois conseguimos localizar e prendê-los. Hoje, recolhemos anotações com informações de todos os integrantes da quadrilha que atuam no Distrito Federal. O material estava na casa do líder paulista”, detalhou o delegado Maurílio Coelho.

Continuum
O nome da operação em latim significa “uma sequência que aparenta não ter intervalos, fazendo com que cada etapa seja muito similar à seguinte ” e faz referência ao trabalho da PCDF no combate às facções criminosas que tentam se instalar na capital federal.

Recentemente, o MPDFT integrou ação nacional contra integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC); do Comando Vermelho (CV), do Terceiro Comando Puro (TCP), da Amigo dos Amigos (ADA); do Primeiro Comando de Vitória (PCV) e da paraibana Okaida RB, uma dissidência da Okaida.

Policiais das divisões de Operações Especiais (DOE) e Aéreas (DOA) e da Polícia Civil de São Paulo também participam da operação.

Em 1º de março, a Cecor prendeu um homem apontado como líder da facção no DF. Morador de Uberlândia (MG), o criminoso, de acordo com a corporação, coordenava o grupo de casa, dando ordens para que os integrantes cometessem crimes nas ruas. Ele estava em sua residência na cidade mineira na hora em que foram cumpridos mandados de prisão, busca e apreensão.

A PCDF divulgou apenas as iniciais – G.M.M. – do suspeito. Com base nas investigações, ele era um dos bandidos “mais nocivos para a comunidade brasiliense”. Segundo a polícia, o preso também foi responsável pela instauração de um Tribunal do Crime para julgar um homem acusado de “trair” o PCC.

O “julgamento” ocorreu no passado. A vítima foi sequestrada e torturada por nove dias seguidos enquanto aguardava a “sentença” de morte que seria proferida pelas lideranças da organização criminosa. Porém, antes de receber a punição, conseguiu fugir do cativeiro, que ficava no Entorno do DF.

Transferência de líderes
Três líderes do PCC foram transferidos para o Presídio Federal de Brasília em 13 de fevereiro. Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, o Marcolinha, irmão de Marcola; Antônio José Müller, o Granada; e Reinaldo Teixeira dos Santos, conhecido como Funchal ou Tio Sam, estão detidos no Distrito Federal. Marcos Herbas Camacho (Marcola) foi levado para a capital de Rondônia. Nesta sexta (22/3), entretanto, ele foi trazido para Brasília com outros três integrantes da facção.

O encarceramento de membros da cúpula da facção gerou preocupação nos órgãos de Segurança Pública. De acordo com investigações da PCDF, células que alimentam a estrutura da organização já escolheram pelo menos duas regiões administrativas para se enraizar no Distrito Federal: Paranoá e São Sebastião. As duas localidades ficam próximo ao Complexo Penitenciário da Papuda, onde foi construída a nova prisão.

Segundo as investigações policiais, a história do PCC em Brasília começou em 5 de março de 2001, após o chefe máximo da organização desembarcar no DF. Depois de peregrinar por diversos presídios do país, Marcola foi recolhido ao Centro de Internação e Reeducação (CIR). Apesar de a estadia ter sido curta – ficou preso até 8 de fevereiro de 2002 –, ele deixou marcas profundas tanto na mentalidade da massa carcerária quanto na segurança pública candangas.

No curto período em que esteve na Papuda, Marcola criou um braço do PCC, chamado pelos criminosos de Partido Liberdade e Direito (PLD). Investigadores identificaram que a facção havia sido criada nos mesmo moldes da organização paulista, inclusive em relação às regras contidas em seu estatuto.

A facção definiu uma série de terminologias para facilitar a comunicação dentro da Papuda. As ordens da cúpula eram transmitidas de dentro dos presídios pelos “torres”, criminosos responsáveis pelo repasse de informações aos “pilotos”, presidiários escolhidos para coordenar os integrantes do PCC que estavam atrás das grades.

Os levantamentos feitos pela polícia mapearam que o organograma do PCC seria rígido e semelhante a uma estrutura militar, com níveis de comando hierarquizados, divididos em escalões de acordo com o poder exercido pelos membros e suas respectivas funções. A organização criminosa ainda construiu uma rede de colaboradores, formada por advogados, familiares, namoradas e visitantes.

Conduzidas pelo regimento da organização, essas pessoas são responsáveis pela articulação dos interesses dos detentos fora dos presídios, dando suporte jurídico, psicológico e, principalmente, financeiro, inclusive com o gerenciamento de contas bancárias alimentadas com dinheiro faturado em ações criminosas.

Sobre as contas bancárias ligadas ao PCC, as investigações apontam que apenas 20% delas estariam relacionadas a movimentações financeiras de alto valor, acima de R$ 100 mil. O restante seria feito por meio de pequenos depósitos.

Além das contas administradas pelos colaboradores da facção, grande parte dos recursos do PCC estaria ligada a empresas de fachada, como pequenas redes de supermercados, negócios imobiliários, restaurantes, agências de automóveis e até cooperativas de transporte de São Paulo.

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