Do EM
Após a chegada do número 1 do Primeiro Comando da Capital (PCC) em Brasília, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, telefonou diretamente para o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, para pedir ajuda. A informação foi confirmada pelo secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres, que não deu detalhes de como o governo federal se posicionou diante da solicitação. Mas, em entrevista ao Correio Braziliense, Torres disse que só a permanência da Força Nacional ao redor do presídio federal não é suficiente. Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, está no Presídio Federal de Brasília desde o início da tarde desta sexta-feira (22/3).
Em outros estados, os presídios federais ficam em áreas mais afastadas de centros urbanos. No DF, a penitenciária em questão fica dentro do Complexo da Papuda, na região de São Sebastião. Segundo o secretário da segurança do DF, essa é uma preocupação que precisa ser levada a sério. “Precisamos de aumento de recursos humanos, de armamento, de recursos de material e investir na segurança de São Sebastião”, alertou.
Torres ressaltou a necessidade de haver investimento em inteligência das forças de segurança pública do DF. “Em um momento de crise financeira, precisamos de apoio nesses investimentos”, frisou. O secretário, que também é delegado da Polícia Federal, relembrou o perigo que representa o PCC para o país. “Trata-se de uma organização criminosa que conseguiu se organizar no Brasil e tem conseguido cometer uma série de crimes perigosos. Nós não queríamos isso na capital da República”, destacou.
Uma das alternativas, segundo o chefe da pasta de segurança do DF, seria a transferência do presídio de segurança máxima para a gestão do Distrito Federal. “Poderíamos utilizá-lo para colocar presos faccionados da Papuda. Presos por corrupção, por exemplo, ou os próprios federais que ficam em uma ala separada no Complexo Penitenciário da Papuda”, frisou.
Outra possibilidade sugerida pelo secretário seria a utlização do Fundo Penitenciário para a construção de um novo presídio de segurança máxima em outra unidade da federação. “Brasília é a capital da República, que recebe autoridades nacionais e internacionais. Nesse contexto, a criação de um presídio desse tipo aqui foi um erro de gestões passadas”, criticou.
Anderson teve uma breve conversa por telefone com o governador Ibaneis Rocha, que está em São Paulo, em um compromisso oficial, e aguarda a chegada dele, na noite desta sexta-feira (22/3), para discutir o assunto.
ENTREVISTA
Brasília está preparada para receber o crime organizado? De que forma as instituições se articulam para proteger a cidade e os moradores?
Nós temos o preparo para receber esses criminosos. As forças de segurança do DF têm capacidade para prevenir e reprimir eventuais problemas do crime organizado. O que eu discuto é o presídio de segurança máxima no Distrito Federal, porque foge ao conceito de Brasília. A capital da República veio do Rio de Janeiro para desenvolver Brasília no interior do país e, por outra questão, em razão da segurança, estratégica nacional. Aqui nós temos autoridades do mundo todo que vêm para o Distrito Federal dentro desse conceito. Nós não somos uma cidade como as outras. Nós temos a sede dos poderes, os tribunais superiores, a sede do governo federal. A construção do presídio aqui foi um erro estratégico de gestões anteriores e agora nós estamos arcando com as consequências disso.
De que forma a proximidade do presídio com a cidade também influencia na segurança?
Eu não acredito em fuga ou rebelião. Ali realmente é um presídio de segurança máxima e quem está lá dentro está trancado. Mas as consequências são a presença dessas pessoas ao redor do presídio, como a presença de outros criminosos no Distrito Federal que vêm atrás do líder maior que está em Brasília, hoje, para ter uma facilidade de um recado, de uma mensagem.
Isso pode fortalecer as células que existem no DF?
Hoje nós temos a situação em controle dentro do Distrito Federal e a ideia é não perder esse controle. Por essa razão, isso será mapeado ao longo do tempo e nós precisaremos medir isso o tempo todo. Esta é uma preocupação que nós não tínhamos e nós não esperávamos ter.
Qual será a articulação do GDF com o governo federal para ajuda?
O governador Ibaneis já conversou com o ministro Sérgio Moro hoje mesmo (22/3) e ele falou sobre as preocupações do GDF com a vinda do Marcola para cá. E o que nós esperamos do governo federal é uma ajuda efetiva. Apenas colocar a Força Nacional ao redor do presídio é importante, mas não é eficiente. Agora nós precisamos aumentar nossos recursos humanos, recursos materiais, armamento necessário, reforçar o policiamento na região de São Sebastião e investir mais na inteligência das forças de segurança pública. Diante da crise financeira que vive o DF, a gente precisar de investimento para resolver um problema que, em tese, não fomos nós que criamos.Nós precisamos de uma ajuda efetiva do governo federal, financeiro, e com recursos que nós vamos necessitar. O governador está chegando de viagem e nós vamos nos encontrar para discutir tudo isso.
De que forma o PCC poderia se organizar no DF?
O PCC conseguiu se organizar no Brasil todo, e por isso tem poder e tem conseguido causar e cometer diversos crimes no país como um todo. Crimes que nos preocupam muito e nós não queremos no DF.
Quais as alternativas para o presídio de segurança máxima?
A primeira delas é passar a gestão do presídio em si para o Governo do Distrito Federal. Nós recebemos o Fundo Penitenciário (Funpen) todos os anos. Ao invés de o GDF pagar, eles (governo federal) usariam a verba do Funpen, que seria transferida para cá na intenção de construir o presídio em outro lugar do país. E nós administraríamos a unidade dentro do Complexo Penitenciário da Papuda. Ela simplesmente integraria o sistema prisional do DF. Poderíamos usá-lo para colocar os presos mais perigosos, os presos faccionados, os federais – que nós temos uma ala dentro da Papuda –, além dos internos de corrupção. Tem uma série de viabilidade que o GDF poderia dar a ele. Mas o presídio foi um erro estratégico por ter sido construído naquela área, em razão da proximidade com o Palácio do Planalto, e em razão de abrigar esse tipo de pessoa.