Do G1 DF
A Polícia Civil do Distrito Federal apreendeu 37 rádios de telecomunicação nesta sexta-feira (17) em uma loja no Cruzeiro durante a segunda fase da operação Caronte, que apura a existência de uma “máfia das funerárias” que agia no DF. Segundo as investigações, os equipamentos já estavam sintonizados na frequência da polícia e seriam vendidos para funerárias identificarem casos de mortes naturais, de olho em novos clientes.
De acordo com a corporação, os rádios ficavam dentro dos carros de funerárias ou com “papa-defuntos” — responsáveis por intermediar o contato entre a família do morto e as funerárias.
O inquérito sobre a máfia das funerárias começou após a polícia revelar a cobrança de até R$ 8 mil por atestados de óbitos – sendo que o serviço é gratuito – com a participação de pessoas que fingiam ser do Instituto Médico Legal (IML).
No começo desta manhã, os policiais cumpriram 21 mandados de busca e apreensão e 11 de condução coercitiva — quando o alvo é levado a depor. Entre os que prestaram depoimento estão o dono da loja de rádios e proprietários de 16 funerárias.
Outro depoimento foi de um policial civil aposentado há mais de 15 anos, suspeito de fornecer a frequência do sinal do IML para as funerárias. Segundo a polícia, todos negaram os crimes.
Segunda fase
Esta segunda fase da Operação Caronte surgiu como consequência de depoimentos de testemunhas e documentos apreendidos na primeira, que ocorreu no fim de outubro. Enquanto na primeira etapa, foi apontado um esquema organizado, nesta segunda, a polícia fala em ações independentes.
Segundo o delegado Marcelo Zago, da Corregedoria da Polícia Civil, as funerárias onde houve buscas nesta sexta são regulares — ou seja, credenciadas pelo GDF. Mas os depoimentos são fundamentais para a investigação.
“Na primeira fase, tínhamos duas organizações criminosas. Na segunda, é cada um por si. São várias empresas que praticam atos desleais, cada uma tentando tirar o seu lucro.”
Funerárias clandestinas
Segundo os responsáveis pelas investigações, as próximas fases da operação irão focar no mercado das funerárias clandestinas. São estabelecimentos que funcionam em fundo de quintal ou em salas alugadas e fazem serviço funerário sem qualquer preocupação sanitária.
“Apreendemos um vídeo que mostra o chamado transbordo. É quando se contrata uma funerária que tem credenciais só para pegar o corpo, e aí coloca em um carro que não é autorizado”, explicou o delegado Marcos Paulo Loures, também da Corregedoria.
A polícia trabalha com relatos de que os locais inclusive manuseavam os corpos sem nenhum respeito. “Eles supostamente cortam um pedaço do corpo para caber no caixão, penduram de ponta a cabeça para o sangue descer mais rápido”, complementou o delegado Marcelo Zago.
“Tudo isso dentro de um lugar inapropriado. Ou seja, no esgoto residencial, estão ali colocando sangue humano e vísceras. É um absurdo.”