A abordagem dos integrantes da Máfia dos Concursos a candidatos não ocorria apenas em portas de universidades e de cursos preparatórios. Uma das investidas aconteceu por trocas de mensagens de WhatsApp, um ano após Bernardo (nome fictício), 34 anos, conhecer Bruno Garcia Ortiz no Parque do Guará. Nos textos, o filho de Helio Ortiz, preso em 2005 e apontado como líder da organização criminosa que frauda certames na capital federal até hoje, garantia “ter um esquema para passar em concurso”. Para garantir uma das primeiras colocações na seleção do Corpo de Bombeiros, realizada em fevereiro deste ano, o irmão de Bernardo aderiu ao conchavo e pagou R$ 5 mil como entrada. Pela negociata, após a aprovação, o restante do repasse seria de R$ 80 mil a R$ 100 mil. Os planos, contudo, foram impedidos pela Polícia Civil.
As informações constam no inquérito da Operação Panoptes, deflagrada, na segunda-feira, pela Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco). Em depoimento, Bernardo conta que Bruno Ortiz ofertava, sempre, vagas em concursos para a área administrativa de órgãos públicos. Para a seleção do Corpo de Bombeiros, organizada pelo Idecan, o integrante da máfia alegou ter à disposição dois “pilotos”, especialistas que repassam as respostas das provas por um ponto eletrônico ou via mensagens de celular.
Porém, um dia antes do concurso, Bruno argumentou que, devido aos detectores de metais nas portas das salas, não seria viável que o irmão de Bernardo utilizasse esse sistema de fraude. Assim, em um encontro, Ortiz entregou a ele um chip em funcionamento e pediu que encontrasse um celular para receber o gabarito. “A cola será mandada em um bloco de cinco números, sendo que cada número corresponderia a uma letra”, orientou o integrante da Máfia dos Concursos.
Bernardo narrou que, no dia da prova, acompanhou o irmão até a universidade onde o certame seria aplicado. O rapaz acrescenta que os dois observaram os possíveis esconderijos no banheiro masculino, e o concorrente à vaga no Corpo de Bombeiros encaixou o celular em um porta-papel e, durante a prova, leu o gabarito. Depois, jogou o aparelho, enrolado em papel higiênico, no lixo. A Polícia Civil deixou que o candidato concluísse a prova e apreendeu o telefone, para, em momento posterior, conduzi-lo à delegacia.