Do Jornal de Brasília

O mundo dos entorpecentes, alucinógenos e estimulantes movimenta um perigoso mercado milionário. Traficantes enriquecem às custas de dependentes, que se envolvem no crime para manter o vício. Por mais que se façam apreensões e quadrilhas sejam desarticuladas, sanar o problema parece uma realidade distante. O Distrito Federal está na rota do tráfico e as apreensões crescem a cada ano. Entre janeiro e maio, quase duas toneladas de drogas foram retiradas de circulação.

Na ponta do lápis, de acordo com a Secretaria de Segurança, nos cinco primeiros meses do ano foram apreendidos, pelas polícias Militar e Civil, 1,85 mil quilos de maconha, 82 kg de cocaína, 34 kg de crack e 6,48 kg de haxixe, além de 1.425 comprimidos de ecstasy, 984 microsselos de LSD e 329 frascos de lança-perfume. Só a Polícia Federal, entre janeiro e abril, tirou das ruas quase 56 mil quilos de maconha e 16 kg de cocaína.

A maior apreensão do ano foi em fevereiro. A Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco) prendeu oito pessoas com mais de uma tonelada de maconha, 37 quilos de cocaína e 500 comprimidos de ecstasy. A organização criminosa atuava há pelo menos dois anos e teve um lucro de R$ 7,5 milhões.

Desde então, muitas apreensões aconteceram e não estão contabilizadas. Somente no fim de semana, por exemplo, a PMDF recolheu mais de 15 quilos de maconha em Santa Maria, Ceilândia e Paranoá. Na última quarta-feira, foram duas grandes ações contra tráfico interestadual da Cord.

Apesar disso, no mesmo período do ano passado a apreensão superou três toneladas. Foram recolhidos 2,97 mil quilos de maconha, 47 kg de cocaína, 79 kg de crack, 43,2 kg de haxixe, 95 comprimidos de ecstasy, 1.885 microsselos de LSD e 630 frascos de lança-perfume.

Atacadista da Asa Norte

A prisão mais recente é a de três pessoas, flagradas com 75 quilos de maconha prensada, avaliada em R$ 112 mil. O produto chegava ao Brasil por Ponta Porã (MS) e era trazido de Goiânia a cada 15 dias para ser distribuído na Asa Norte. “O grande atacadista”, como classifica o delegado-chefe da Coordenação de Repressão às Drogas, Rodrigo Bonach, seria Sérgio Martins Maciel, 40 anos, que distribuía a droga para traficantes menores na capital. Um deles seria o taxista Luiz Eduardo dos Santos Lobo, vulgo “Dudu”, assassinado há um mês em troca de tiros na 309 Norte.

Sérgio tentou ingressar na Polícia Civil de Goiás como escrivão em 2016, mas uma passagem por porte de drogas em 2003 o barrou do processo. Ele e um comparsa, Rodrigo Emmanuel Marques de Souza, 36, foram autuados em flagrante por tráfico interestadual. A terceira envolvida, Ellen Cristina, 35, vivia no apartamento onde funcionava um depósito. Ela responderá por associação para o tráfico.

No mesmo dia, dois irmãos que traficavam crack na Estrutural foram presos com um quilo da droga, o equivalente a quatro mil porções. Uma denúncia levou os policiais a Walter Barbosa, 59 anos, que já havia sido preso por tráfico interestadual em 2015, e a Walmir Barbosa, que tinha as drogas aos pés no carro em que foram flagrados. No DF, o crack atinge o maior número de pessoas. “Não existe usuário recreativo”, afirma o delegado.

Traficante causa o mal e não consome

De acordo com Rodrigo Bonach, o delegado-chefe da Cord, os traficantes “são nocivos, causam mazelas à a sociedade e à saúde pública, visando o lucro que pode ultrapassar os 1.500%, mas a maioria não consome drogas”. Os usuários, tomados pela dependência, deixam as casas, o trabalho, os estudos e, para comprar as drogas, acabam cometendo crimes como roubos, furtos e até homicídios. “A droga financia delitos mais graves”, alerta.

Para Bonach, a repressão não pode parar. “O problema do tráfico é intenso e constante. A apreensão tem que ser crescente, o que não significa, necessariamente, que há mais consumo, um número maior de drogados ou uma atuação maior de traficantes”, explica. Ele defende que é preciso desarticular o maior número de grupos possível para que o desabastecimento seja maior e a oferta, menor. O delegado faz uma analogia para exemplificar o trabalho: “Se a gente não aparar a grama, vira floresta”.

O investigador acredita que o maior problema seja a proximidade com países produtores de drogas. “Acredito que seja preciso, em âmbito federal, aumentar o tom para que esses países controlem, reprimam e deixem de receptar veículos roubados aqui, que funcionam como moeda de troca”.

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