26/02/2008

Autor: José Luiz Miglioli

Ressalta-se que os policiais civis quando apresentam dificuldade no relacionamento, transtornos de ansiedade e de humor, cansaço e desânimo possuem sinais de uma doença denominada a síndrome de Burnout (Burn-Out), ou síndrome do desgaste profissional. É o esgotamento físico e mental causado pelo excesso de trabalho. Essa doença provoca vários danos à saúde, desde dores no corpo a depressão, bem como risco de infarto. (Revista Cláudia, janeiro de 2003)

É cediço que alguns problemas podem não ser desgastantes para certos policiais civis, mas para outros, porém, é intensamente prejudicial. A gravidade e intensidade dos danos à saúde variam de pessoa para pessoa. A fadiga extrema ocorre geralmente em trabalho estressante e ambiente tenso. Isso pode gerar dores no corpo, depressão e vários outros problemas.

Vê-se que determinados policiais civis, mesmo aconselhados pelos médicos, evitam o afastamento de suas funções para tratamento médico, diante dos prejuízos que isso acarreta. Esse comportamento é prejudicial a Instituição Policial Civil, aos próprios policiais e ao serviço público.

Certos policiais civis podem adquirir gravíssimos problemas no exercício de suas atividades funcionais e, inegavelmente, também com as demais questões atinentes a todo ser humano. A somatória de tudo isso pode ocasionar danos a sua saúde.

O policial civil portador de sintomas indicadores de deficiências psíquicas ou físicas precisa procurar tratamento médico. E, da mesma forma, melhores condições de trabalho e, se impossível, providenciar a licença médica ou licença prêmio.

O início da síndrome de Burnout decorre da carga de trabalho, competitividade e a pressão do chefe, fato que, a pessoa sente desmotivada e incapaz de produzir satisfatoriamente, comprometendo a produtividade. O psiquiatra Elko Perissinotti, chefe da equipe de psiquiatria do Hospital e Maternidade São Luiz, em São Paulo, explica que a síndrome de Burnout não pode ser confundida com estresse (cansaço mental que atinge só profissionais). (Revista Cláudia, janeiro/2003)

Os primeiros sintomas são dores no corpo, desânimo, fadiga crônica e cansaço. Com a passar dos meses, o colesterol e a pressão arterial podem aumentar, assim como a possibilidade de desenvolver diabetes, doenças de pele e até de sofrer derrame ou infarto. O tratamento eficaz exige não somente o afastamento do trabalho e férias, mas sim a combinação disso com terapia e medicamentos para ansiedade e depressão.

É importante não menosprezar os sintomas. Caso o policial civil não obtenha a melhora de saúde, com a licença (prêmio ou médica) ou a troca do local de trabalho, corretamente deve procurar tratamento médico.

Um profissional desmotivado, sem interesse por projeto algum, lento, dispersivo, mal-humorado com os colegas talvez não seja um mau profissional. Ele pode estar doente, com depressão. Observe esta lista de sintomas: fadiga aumentada, dificuldade de concentração, baixa auto-estima e autoconfiança, idéias de culpa, sensação de inutilidade, lentidão motora e de raciocínio. (Veja, 12/12/2001)

Inegavelmente a depressão também pode se originar das atitudes de policiais civis que executam tarefas enfadonhas, repetitivas e mal planejadas, com a conseqüente inexistência de motivação. Igualmente, os que possuem problemas familiares e sociais pelo pouco salário a receber. A grande motivação de uma pessoa no trabalho é ganhar dinheiro.

O administrador Stephen Kanitz ressalta que nossos policiais reclamam por aumento salariais com absoluta justiça. Alguns têm de viver em favelas, onde temem que alguém descubra sua profissão. Nossos policiais deveriam ser pagos num nível salarial que os fizesse temer a perda do emprego, em vez de sentir vergonha dele. (Veja, 22/08/2001)

Convém considerar o desgastante trabalho policial, como fator de iniciação de distúrbios psíquicos. Constantemente, o talento, a capacidade de trabalho, a paciência, o bom humor e a obstinação do policial civil são levados ao limite, mas em compensação os benefícios, pífios.

O policial civil é desmotivado também pela dificuldade em obter promoções na carreira. Algumas promoções geram ressentimento e amargura. O escritor Alfie Kohn afirma que os psicólogos apontam diferentes tipos de motivação. O primeiro é a intrínseca, segundo a qual a pessoa adora o seu trabalho pelo que ele é. A segunda é a extrínseca, que a levaria a fazer alguma coisa porque vai receber algo em troca. (Revista Exame, 13/12/2000)

Por isso tudo, o escritor afirma que uma empresa deve lidar com a remuneração de um funcionário pagando bem e de forma justa.

O médico Marcelo Dratcu, gestor de Sistemas de Saúde pelo Gallilee College (Israel) e pesquisador na área de terapia cognitivo-comportamental ressalta se uma pessoa reduz suas condições de trabalho, prejudica a empresa e a si mesmo. A busca pelo sucesso e pelos resultados dentro de uma empresa é um fator estressor para qualquer profissional. E o que pouca gente sabe é que tanto a produtividade quanto a ascensão profissional estão totalmente ligados ao bem-estar físico e mental do indivíduo. (Gazeta Mercantil – Alexandre Staut, São Paulo, 18/02/2008)

Observa o Dr. Dractu que ansiosos por serem bons profissionais, muitos funcionários acabam deixando em segundo plano a qualidade de vida. Quando se dá conta, tudo está dando errado. Há de se adotar, assim, técnicas para ajudar a amenizar sintomas da síndrome do trabalho vazio, uma doença na qual se verificam sintomas como a necessidade de seduzir a confusão nas relações e a tendências a bisbilhotar a vida alheia.

Em pesquisa realizada na Alemanha, Brasil, China, Estados Unidos, Ilhas Fiji, França e Hong Kong com 780 profissionais comprovou-se que a pessoa com auto-estima elevada, lida melhor com o estresse. A pesquisa é um retrato de que o profissional, que não se gosta e não se sente competente para executar suas tarefas, tende a assumir comportamento passivo ou agressivo. E isso prejudica o trabalho de equipe e a obtenção dos objetivos corporativos. (O Estado de S. Paulo, 19/12/2004)

Os policiais civis precisam receber treinamentos que exercitem a autoconfiança e fortaleçam a auto-estima. A reportagem jornalística demonstra que programas preventivos de qualidade de vida no trabalho podem minimizar os danos à saúde dos colaboradores e também os prejuízos das empresas. Nos Estados Unidos, o estresse profissional custa, anualmente, U$ 300 bilhões às empresas e, na União Européia, os custos com problemas de saúde decorrentes do stress consomem de 3% a 4% do seu PIB.

Esse desgaste físico e emocional sinaliza que os recursos internos das pessoas são insuficientes para lidar com as situações estressantes. E isso afeta, diretamente, o sistema imunológico, gerando ansiedade, depressão, fadiga, alienação. Além de causar a deteriorização dos relacionamentos, conflitos interpessoais, alta rotatividade nas empresas, absenteísmo e diminuição da qualidade e da produtividade no trabalho. (O Estado de S. Paulo, 19/12/2004)

Certamente, o policial civil com problemas de saúde pode ocasionar prejuízos a Administração Pública. Ao demonstrar ineficiência no serviço poderá envolver-se em procedimentos disciplinares, fato que, como medida preventiva deve comunicar a enfermidade aos seus superiores hierárquicos.

Outra anomalia existente entre os policiais civis é a lombalgia (dores nas costas) que está intimamente relacionada com fatores psicossociais, desde o estresse gerado pela desmotivação no trabalho até a depressão (causas emocionais). Isso é comprovado através de estudos internacionais, endossados por ortopedistas e fisiatras brasileiros.

Os médicos orientam para um tratamento que deva ir além dos analgésicos e de exercícios fisioterápicos para, igualmente, tratar os aspectos emocionais que desencadeiam a dor. O ortopedista Ysao Yamamura, professor da Unifesp e responsável pelo ambulatório de acupuntura do Hospital de São Paulo alerta que não adianta cuidar apenas do corpo físico, mas também das emoções. (Folha de S.Paulo, 09/02/2003)

Segundo o ortopedista Ysao Yamamura, a tensão emocional pode transformar a coluna em um órgão de choque, em que o indivíduo descarrega as emoções negativas, como ansiedade e frustração, fato que, funcionam como um fardo nas costas.

Os médicos alertam que 40% dos doentes de lombalgia podem desenvolver um quadro de dor crônica. E, 85% dos casos não é possível determinar o motivo da dor.

Para o ortopedista Akira Ishida, professor da Unifesp, no decorrer do tempo, vários fatores de risco atuam em conjunto ocasionando a dor. E, não adianta trocar de colchão ou de cadeira, pois se não houver mudança de hábito, como perda de peso e realização de atividade física, a dor voltará. (Folha de S.Paulo, 09/02/2003)

Na fase aguda da dor, que dura de cinco a sete dias, o tratamento mais recomendado é o repouso e o uso de analgésico e antiinflamatórios. Para a fisioterapeuta Maria do Carmo Bruneli, os exercícios de alongamento da musculatura e a reeducação postural também são importantes. (Follha de S. Paulo, 09/02/03)

A fisiatra Lin Tchia Yeng, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, afirma que estudos realizados com policiais na Irlanda do Norte e na Inglaterra e com enfermeiras na Alemanha e na Bélgica demonstraram que a proporção de indivíduos com lombalgia crônica não dependeu da freqüência ou intensidade de exposição a estressores físicos, mas sim dos fatores psicossociais, como o estresse e as dificuldades no trabalho. (Follha de S. Paulo, 09/02/03)

Em reportagem jornalística denominada “Dores nas costas têm causa emocional” há informação de que 10% das vítimas de casos crônicos de lombalgia ficam afastadas do trabalho por mais de seis meses e chegam a utilizar 70% dos recursos disponíveis para o tipo de problema. O medo de voltar a sentir dor é um dos principais obstáculos para o sucesso do processo de reabilitação. Após a instalação da lesão inicial, a tendência de algumas pessoas é evitar os movimentos que possam causar a dor. (Follha de S. Paulo, 09/02/03)

O ortopedista Eduardo Jorge, dos hospitais Albert Einstein e Santa Paula, alerta que o excesso de preocupações afeta a coluna. Ir todo dia para o trabalho detestável, estar sob constante pressão do chefe, ansiedade e tristeza demais são fatores que desabam qualquer postura. (Diálogo Médico, janeiro/fevereiro de 2006)

Além do ambiente de trabalho tenso, insalubre, extenuante e desgastante e, igualmente, dos demais problemas que afligem o policial, pois é também um cidadão normal, há ainda a escassez de móveis próprios na Unidade Policial. Assim, normalmente inexiste uma cadeira e mesa confortáveis, principalmente, na utilização correta de postura frente ao computador. Certamente não há nas Unidades Policiais móveis ergonômicos.

Caso seja necessário o policial será readaptado pelo Departamento Médico significando, assim, a investidura em cargo mais compatível com a sua capacidade, dependendo de inspeção médica. (Lei nº 10261, de 20-10-68, alterado pela Lei nº 942, de 06/06/03 – Estatuto dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo)

Conforme estabelece o Decreto nº 29.180, de 11/11/1988 (Regulamento de Perícias Médicas – R.P.M.), a licença para tratamento de saúde do policial dependerá de perícia médica a ser realizada pelo D.P.M.E. – Departamento de Perícias Médicas do Estado, após solicitação ao superior hierárquico ou diretamente ao órgão de pessoal para emissão da G.P.M. – Guia para Perícia Médica. E, as licenças com prazo superior a noventa dias, dependerão de perícia através de Junta Médica.

A Resolução SS-77, de 11-6-97 (institui norma de procedimento relativa à operacionalização do instituto de readaptação) ressalta que o policial pode ser readaptado quando ocorrer modificação de suas condições de saúde que altere sua capacidade de trabalho. Outras normas regulamentam a readaptação, a saber: Decreto nº 52.968/72; Instrução CER-1/72 e Portaria CAAS-1/90 (Comissão de Assuntos de Assistência à Saúde, ligada a Secretaria de Estado da Saúde).

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