Em três anos de governo, a gestão de Rodrigo Rollemberg (PSB) gastou quase R$ 20 bilhões em segurança pública. A aplicação saltou 13,8% entre 2015 e 2017. Apesar dos recursos bilionários, o que sobra para investimento após pagamento de pessoal, manutenção da frota e reforma de estruturas é baixo em relação aos valores totais. Dessa forma, especialistas, interlocutores das forças de segurança e cidadãos cobram uma política de segurança mais efetiva. Eles concordam que deve haver investimento em ações contundentes e de resultados rápidos, como policiamento nas ruas e reforço na investigação. Para o próximo ano, o Palácio do Buriti estima a aplicação de R$ 13,6 bilhões na segurança — a maior cifra desde o início do governo.
Um dos crimes que mais chamaram a atenção no ano foi o latrocínio. Houve 34 casos até 8 de dezembro e 41 no mesmo período do ano passado. Em 2017, dois deles chocaram a cidade. O mais recente deles ocorreu na área central do Plano Piloto. Teve como vítima o pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) Arlon Fernando da Silva, 29 anos, enquanto pedalava em ciclovia a cerca de 200m do Palácio do Buriti e próximo à Câmara Legislativa, ao Ministério Público do DF e Territórios e ao Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (leia Memória). Como contraponto, a Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social destaca quedas em homicídios (redução de 12,2% em relação a 2016) e em assaltos a ônibus (26,8%). Além disso, houve a apreensão de quase cinco toneladas de drogas — 8,3% a mais que no ano passado. “Os dados significam efetividade da Polícia Militar, com operações especiais e de rotina, além das investigações da Polícia Civil”, destaca o boletim da criminalidade da pasta.
Outros crimes, como roubos a pedestre, de veículo e a residências, permaneceram com índices estáveis. Ainda assim, assustam a população. A massagista Wilca Sampaio, 30 anos, mora em Sobradinho. Ela foi assaltada duas vezes neste ano em arrastões cometidos em um ponto de ônibus no Grande Colorado. “Na primeira vez, levaram o meu celular e, 40 dias depois, na mesma parada, me assaltaram de novo. Naquela região, tem muito tráfico de droga e invasão de casas nos condomínios. A gente quase não vê viaturas da polícia fazendo rondas”, reclama.
Incremento
Para o exercício de 2017, a Polícia Civil solicitou ao Buriti R$ 122 milhões para investimento, mas recebeu R$ 30 milhões — menos de 25% do valor inicial. O dinheiro seria usado na construção ou reforma de cerca de 15 prédios, sobretudo delegacias, segundo o Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol). O presidente da entidade, Rodrigo Franco, avalia que a verba da segurança pública é sacrificada em relação a outras áreas. Ele destaca um corte de R$ 170 milhões no dinheiro destinado ao setor.
Para o sindicalista, em momentos de dificuldades financeiras, a Polícia Civil, responsável pelas investigações de crimes, é a mais atingida. “Entre as três forças, a Polícia Civil é a mais prejudicada. Nós temos acumulado perdas tanto no setor de pessoal, como em equipamentos e estrutura”, afirma.
O especialista em segurança pública Nelson Gonçalves afirma que os principais problemas na área não são exclusivamente ligados a recursos financeiros. Para ele, o dinheiro do Fundo Constitucional deveria ser mais bem aplicado. “Esse é um valor bastante significativo e a maior parte dele, pela legislação vigente, deveria ser empregada em segurança. O que falta é uma radiografia mais aprofundada para analisarmos o cenário. Dessa forma, conseguiríamos verificar os erros para não serem cometidos novamente e reforçaríamos as decisões que estão dando certo”, defende.
A maior queixa nas ruas do DF é a falta de policiamento. Há menos policiais que o necessário para fazer a segurança. Um levantamento da Polícia Militar mostra que 39,3% das vagas de praças combatentes, ou seja, servidores que trabalham diretamente no patrulhamento da cidade, não foram preenchidas. Até agosto, 10.055 homens faziam o serviço, quando o ideal seriam 16.552 — 6,4 mil policiais a mais. Apesar do desequilíbrio, a Secretaria de Segurança garante que reduz os índices de criminalidade.
Crimes bárbaros em 2017
Dois crimes chocaram o DF neste ano. Arlon Fernando da Silva, 29 anos, foi morto no início de dezembro no centro da capital federal. O crime aconteceu na ciclovia da via S1 do Eixo Monumental, em frente à Câmara Legislativa, na altura do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e a cerca de 200m do Palácio do Buriti. A vítima voltava para casa de bicicleta, no Sudoeste, depois de sair da Universidade de Brasília (UnB), no fim da Asa Norte, quando foi atacado com golpes de faca. Ele era doutorando de física pela UnB. Chegou a Brasília em 2013 para cursar o mestrado, após concluir a faculdade na Universidade Federal do Paraná (UFPR). A Polícia Civil ainda não prendeu o assassino.
Em agosto, a servidora do Ministério da Cultura e mestranda da Universidade de Brasília (UnB) Maria Vanessa Veiga Esteves, 55, também foi vítima de latrocínio no estacionamento do prédio onde morava, na 408 Norte. Ela foi abordada por dois homens que tentaram roubar a bolsa dela. Um deles a segurou, enquanto o outro usou uma faca para golpeá-la pelas costas. Maria Vanessa morreu no local. Os suspeitos foram presos no dia seguinte. O que teria golpeado a jornalista é menor de 18 anos.