Do Jornalismo IESB 

A sensação de insegurança no Distrito Federal levou o Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF) a fazer uma análise mensal dos números da criminalidade que estão sendo divulgados pela Secretaria de Segurança Pública e Paz Social do Governo do Distrito Federal. “Percebemos que Governo tem realizado recortes em dados estatísticos que lhe favorecem, maquiando a realidade da criminalidade”, opina o presidente da entidade, Rodrigo Franco.

A denúncia se refere principalmente ao fato de que, segundo o Sinpol-DF, a SSP tem divulgado uma queda nos índices de criminalidade, realidade que não é percebida nas ruas. Prova disso, segundo ele, está nos crimes de latrocínio, uma vez que os números se restringem às ocorrências consumadas, sem incluir as tentativas. No acumulado de janeiro a julho deste ano foram 20 ocorrências de latrocínios consumados, enquanto no mesmo período de 2016, foram 28. Quando somadas as tentativas, no entanto, o total de ocorrências salta para 130.

Em agosto, o assassinato da servidora do Ministério da Cultura na SQN 408, foi mais um caso que entrou para as estatísticas. Maria Vanessa Esteves morreu depois de ser esfaqueada por dois homens. “Uma reclamação constante da população é que você percorre a cidade inteira e não se encontra viaturas da Polícia Militar. A falta de policiamento ostensivo e preventivo acaba favorecendo os criminosos”, reforça Franco.

A seguir leia a entrevista exclusiva do presidente do Sinpol-DF ao Portal de Jornalismo Iesb.

– Portal de jornalismo Iesb:Qual a sua visão sobre a política de Segurança Pública do Governo do Distrito Federal? O que pode melhorar?

– Rodrigo Franco: Aqui no Distrito Federal, durante a gestão do atual governo, nós não conseguimos visualizar políticas públicas eficientes. O que é possível perceber são cortes constantes nos investimentos para a segurança pública e essa é uma das razões para o aumento da criminalidade. A segurança pública, para o atual governo distrital, não é prioridade. Outro equívoco do governo é o de esquecer a Polícia Civil, que é uma polícia investigativa, para fortalecer a polícia ostensiva, que é a Polícia Militar. Ele acaba favorecendo mais uma parte da polícia em detrimento da outra. E as duas precisam ser fortalecidas porque quando você deixa de fortalecer uma delas, a segurança pública acaba perdendo no geral.

– Quais tipos de crimes têm registrado crescimento? A que o senhor atribui esse aumento dos índices?

– Os crimes de estupro, roubo a pedestres – que acontecem na saída das escolas, nas paradas de ônibus, quando as pessoas estão indo trabalhar ou estudar e voltando para suas casas. Roubo a comércio e de cargas, também aumentaram. Nada diminuiu. Nenhuma natureza de crime diminuiu. Elas têm se mantido de forma estáveis – um mês cai, outro mês sobe -, isso significa que não há uma política voltada para a diminuição da criminalidade, porque se existisse nós teríamos uma curva descendente nos índices de criminalidade no Distrito Federal.

Pedestres na Asa Norte

– No caso, por exemplo, de roubos a pedestre – que, de acordo com balanço recentemente divulgado pelo Sinpol, têm registrado aumento dos índices – não poderia ser decorrente também da crise econômica e do desemprego?

– Eu acredito que isso também contribui, mas o preponderante, para essa realidade, é a falta de policiamento ostensivo nas ruas da capital. Uma reclamação constante da população é que você percorre a cidade inteira e não encontra viaturas da Polícia Militar. Logo, essa falta de policiamento ostensivo e preventivo acaba favorecendo os criminosos.

– Desde quando e por que o Sinpol-DF decidiu divulgar, por conta própria, os números da criminalidade?

– Nós percebemos que o governo estava divulgando apenas dados que lhe favorecem, com cortes temporais que lhe favorecem. No nosso entendimento, isso é uma maquiagem. Além disso, nós acreditamos que, quando o governo quer transparecer para a sociedade que a segurança pública está bem, que os índices estão caindo, ele deixa de investir nessa área. Isso é um equívoco e a sociedade vivencia a violência no seu dia-a-dia.

– De onde vêm os dados que o sindicato divulga? Qual o critério para divulgá-los?

– São os dados divulgados pela própria Secretaria de Segurança, que são públicos. No entanto, nós fazemos uma outra análise, um outro recorte. Nós realizamos uma análise mais aprofundada porque também entendemos de segurança pública. A partir daí, percebemos que o DF tem realizado recortes temporais em dados estatísticos que lhe favorecem, maquiando a realidade da criminalidade na capital. Dessa forma, se em um determinado mês do ano tivemos diminuição de algum crime, ele deixa de apresentar os dados dos crimes que aumentaram, como ocorre o latrocínio, que tivemos recentemente na 408Norte. O governo vai destacar que o latrocínio diminuiu em algum mês, mas não mostra que o crime aumentou em outros meses e ao longo do ano.

– O senhor poderia destacar algum dado controverso apresentado pelo governo?

– São vários os casos constatados pelo Sinpol. Por exemplo, o governo mudou a metodologia dos crimes contra a vida. O que isso quer dizer: ele divulga apenas os crimes consumados – como o de homicídio –, não divulga as tentativas de homicídio e de latrocínio. E, quando analisamos, os dados revelam que os índices têm, pelo menos, se mantido, principalmente o roubo a pedestre, que tem aumentado muito.

– Atualmente, quais são as regiões mais violentas do DF?

– Nós solicitamos recentemente esses dados para a Secretaria de Segurança Pública e estamos aguardando o envio das informações. O que nós verificamos, diante dos casos registrados pelo governo e dos relatos dos nossos policiais, é que as regiões do Paranoá, Itapoã, Ceilândia, São Sebastião e Santa Maria têm apresentado grande concentração de criminalidade.

– Na sua opinião, o que precisa ser feito para o resgate da paz e da sensação de segurança nas ruas do DF?

– Acredito que o governo precisa investir mais em segurança pública, colocando-a como prioridade. A partir do momento em que isso acontecer a população vai voltar a ter tranquilidade nas ruas. É preciso investir mais no efetivo das categorias, em equipamentos, em tecnologias… A partir daí, teremos paz nas ruas do DF.

– Qual a mensagem do Sinpol para a sociedade em relação a segurança pública?

– A sociedade precisa vigiar o trabalho do governo e cobrar melhorias. Precisa ficar atenta para as ações do governo e exigir mais investimentos nessa área. Todos temos direito de andar nas ruas com segurança e tranquilidade. Por isso, o sindicato vai continuar trabalhando para dar transparência aos dados estatísticos divulgados pelo governo, para ajudar a sociedade na cobrança de melhores condições na segurança pública. Nossa missão é fazer da polícia um instrumento de prestação de serviço. Esse que é o nosso propósito.

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